06/09/2019

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Coimbra, 6 de Setembro de 1949 – Só me vem roubar tempo e maçar-me. Mas recebo-o sempre com deferência, e ouço-o com a melhor atenção que posso. Com todos os seus defeitos, é um leitor. Um homem capaz ainda de se debruçar sobre um poema, atento e enlevado horas a fio. A vida levou nos seus braços velozes a calma dos dias passados, que dava para fazer passeios, pelos campos e pelos livros. Agora reduziu tudo ao essencial, ao caldo e às batatas, e só verdadeiros heróis, sujeitos deformados e anacrónicos, têm a necessidade de ler e meditar. Por isso é preciso acarinhar estes fenómenos. E não tanto pela arte, que, afinal, se não é precisa não tem nada que fazer no mundo, mas por eles, que são doentes, diferentes, condenados paladinos duma causa perdida.”

Miguel Torga, “Diário V” 2ª ed. Revista, pág. 44, Coimbra Editora, 1955.

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