“É
favor não sujar o offset!
Grande
progresso se anunciou para o nosso «Diário de Lisboa» pela
pena do seu Director-Geral Lopes do Souto! Tão grande que o
cronista, amodorrado desde há meses, sentiu uma irrecusável
necessidade de romper o silêncio, fita de máquina e papel para
festejar, na sempre boa companhia que é a deste Jornal, a novidade
grande: o offset!
Sim!
Vocês já viram bem o que vai ser o offset? Do ponto de vista de
quem lê ou, pelo menos, manuseia o jornal, o offset representa, pela
primeira vez em Portugal, a possibilidade de não sujar as mãos com
notícias frescas. Da fresca data à fresca tinta como as técnicas
podem mudar!
Homens
de mãos e punhos brancos, o offset não denunciará em vós o hábito
de estar a par do que ocorre no mundo e seus quintais. Doravante
(melhor: 6 de Outubro chegado) podeis entregar-vos, sem traiçoeira
mácula, a esse vício que até agora haveis mantido quase secreto; o
da informação. Vietname não sujará a mão! Golos do Eusébio não
sujarão a mão! Palavras cruzadas não sujarão a mão (o offset não
se responsabiliza pelo eventual derrame do conteúdo da
esferográfica…)! Discursâncias (que sacrifício para um jornal
que é rápido…) não sujarão a mão!
O
OFFSET CONSERVA MAIS BRANCO!
Homens
de mãos (honestamente) sujas, não mais podereis mostrar o sujo das
vossas mãos como um dramático sinal da luta pela informação!
Acabou-se o fadinho, queridos e esforçados autodidactas…
Que
bom, que lindo um jornal limpo!
Assim,
para rematar esta croniqueta, que ainda suja, propomos que o Diário
de Lisboa offseteditado passe a trazer, em cada número, a evidência
da sua preocupação de limpeza:
É
FAVOR NÃO SUJAR O OFFSET!”
Alexandre
O’Neill. In
“Diário de Lisboa”, 9 de Setembro de 1971.
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