28/11/2018

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“Nos anos cinquenta os protagonistas dos filmes copulavam sobretudo em campos de trigo porque os campos de trigo estavam associados à juventude e à nova vida que esperava os jovens protagonistas e o vento acariciava as espigas e no horizonte punha-se o Sol e os seios das mulheres inchavam e nos anos sessenta os protagonistas dos filmes copulavam nas ondas da maré nas margens do oceano porque isso era romântico e a areia colava-se-lhes à pele e viam-se-lhes os traseiros e acima da água levantava-se a maresia. Nos anos sessenta também surgiram os primeiros filmes pornográficos em que se copulava quase o tempo todo e nos lugares mais diversos. E nas revistas para jovens raparigas as redactoras mais experientes explicavam como fazer sexo oral bem feito etc. E nas revistas para jovens rapazes os redactores mais experientes explicavam como evitar a ejeculação precoce e como enfiar o preservativo sem que a rapariga o notasse. E as agências de publicidade inventavam anúncios para preservativos e reflectiam sobre a melhor forma de se interpelar os jovens espectadores (aqui está um bom exemplo de como seria confuso usar o novo acordo ortográfico: “jovens espetadores” Nota RAR) e houve uma agência que se lembrou de fazer clipes publicitários em que copulavam diversas figuras dos contos de fadas como a Branca de Neve e a Cinderela e princesa Pele de Burro e Xerazade. Também em filmes artísticos cada vez mais se copulava mas os críticos diziam que não era a mesma coisa porque o que estava em causa não era a cópula enquanto tal mas a sua representação. E quando nalgum filme artístico a cópula era abundante diziam que esse filme expressava a nossa actividade entomológica perante o amor e que estava bem assim porque tal nos permitia reflectir melhor sobre o papel da cópula não só no contexto antropológico cultural ou político mas igualmente na vida humana. Nos anos setenta os protagonistas dos filmes copulavam sobretudo dentro de automóveis porque isso era original e a vida não parava de acelerar e os jovens espectadores que não tinham carro podiam assim imaginar o que os esperava na vida. E cada vez mais os homens estavam deitados por baixo e as mulheres estavam montadas em cima deles porque entretanto se tinham emancipado. E nos anos oitenta surgiu o sexo por telefone e os homens marcavam diversos números onde mulheres lhes diziam ao auscultador ESTOU A FICAR MOLHADA ou ENFIA-MO ATÉ AO FUNDO ou DEIXAS-ME SABOREAR? etc.”

Patrik Ouředník, “Europeana – uma breve história do século XX”, pp. 60-1, Antígona Editores Refractários, Lisboa, 2017.

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