“E
em 1942 os representantes da Cruz Vermelha suíça ficaram a saber
das câmaras de gás nos campos de concentração mas decidiram não
publicar a notícia porque temiam que os Alemães poderiam abusar
disso como pretexto para desacreditar as organizações humanitárias
e vedar-lhes o acesso aos campos de prisioneiros e hospitais. E em
1944 os Alemães rodaram para os representantes da Cruz Vermelha e
diversas comissões internacionais um documentário sobre a vida no
campo de concentração de Terezín. No filme entraram 270 actores e
1600 crianças e vários milhares de figurantes adultos dos quais se
excluíram à partida os de cabelo claro porque não tinham um ar
suficientemente judeu. O título do filme era QUE BEM QUE SE ESTAVA
EM TEREZÍN e neles os judeus iam ao café e cultivavam legumes em
pequenas hortas e saltavam à água de cabeça na piscina e iam ao
banco levantar dinheiro e aos correios para receber encomendas e
escutavam óperas e na biblioteca local debatiam sobre o sentido da
civilização europeia. E quando as filmagens terminaram os Alemães
organizaram onze transportes especiais e mandaram todos os que
participaram no filme para o campo de extermínio em Auschwitz.”
Patrik
Ouředník,
“Europeana – uma breve história do século XX”, pp. 64-5,
Antígona Editores Refractários, Lisboa, 2017.
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