12/11/2018

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“O primeiro genocídio do século XX ocorreu na Turquia em 1915. O Governo começou por prender e fuzilar seiscentas famílias arménias que viviam em Constantinopla e depois desarmou e fuzilou os soldados de origem arménia que prestavam serviço no exército turco. E todos os arménios receberam ordens para abandonar as cidades e aldeias num prazo de vinte e quatro ou quarenta e oito horas e o exército turco ocupou posições junto das portas da cidade e quando as pessoas saíram fuzilou todos os homens e mandou as mulheres e crianças para o degredo em regiões desérticas na Mesopotâmia. E as mulheres e crianças tiveram de percorrer de trezentos a quinhentos quilómetros a pé sem comida e a maioria pereceu. E os Franceses e os Ingleses e os Russos apresentarem uma nota de protesto em que pela primeira vez na história se escrevia tratar-se de um crime contra a humanidade. E um oficial alemão que nessa altura estava com o exército turco como instrutor levou para a Alemanha sessenta e seis fotografias do genocídio arménio e enviou-as ao imperador alemão e escreveu-lhe que a Alemanha haveria de escolher melhor os seus aliados porque a vergonha da Turquia não deixava de manchar também a Alemanha. E entre 1928 e 1949 os Russos deportaram seis milhões de cidadãos de nacionalidade suspeita arménios e lituanos e ucranianos e polacos e alemães e moldavos e gregos e calmucos e curdos e inguches etc. e 30 por cento deles pereceram pelo caminho e 20 por cento morreram no ano seguinte. Os comunistas diziam mais tarde que não se tinha tratado de deportações mas de optimização do espaço geográfico e do primeiro passo rumo a uma nova sociedade supranacional onde já não teria importância quem vivia onde mas quão afincadamente trabalhava para o bem de todos. E em 1934 inventaram uma reserva para os Judeus e convidaram todos os judeus soviéticos a mudarem-se para lá. A reserva encontrava-se na fronteira com a China na região de Khabarovka e no Inverno a temperatura descia até aos -40º C e os comunistas diziam que não era uma reserva mas uma região autónoma onde os Judeus podiam estar entre os seus e gerir a sua própria vida. E em 1944 deportaram para o Cazaquistão e para o Quirguistão 477 mil chechenos em 12525 vagões para o transporte de gado e 190 mil chechenos morreram pelo caminho de fome e gelo e em 1999 inventaram para os chechenos suspeitos campos especiais denominados campos de desterro temporário. E em 1948 acusaram jornalistas e médicos e engenheiros de origem judia de cosmopolitismo e de uma mentalidade burguesa e mandaram assassinar a maioria deles e mandaram outros para campos de concentração. O número de vítimas do genocídio arménio foi estimado em um milhão a milhão e meio mas os Turcos diziam que o genocídio arménio não tinha sido um verdadeiro genocídio e a maioria dos Judeus assim pensavam também.”

Patrik Ouředník, “Europeana – uma breve história do século XX”, pp. 45-47, Antígona Editores Refractários, Lisboa, 2017.

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