Monte
Real, Agosto de 1938, Domingo –
Quatro horas num destes
comboios portugueses que parecem
arcas de Noé. Quatro horas arrumado entre uma canastra de sardinhas
e a sua dona, a ouvir o que nunca cudei de ouvir. Quando cheguei ao
fim, por fora, era pescador. Por dentro é que fui verificar. Mas
não: – Olhei-me bem e, infelizmente, era o mesmo pobre-diabo de
sempre, poeta, etc e tal, amarfanhado, mas com ares de Traga-Moiros,
quase a pedir desculpa por não ser realmente o homem daquela Maria
Cação.
Miguel
Torga, “Diário I”, pp. 70-71, 1941, Coimbra.
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