“(…)
Eu feito homem da
gravata às riscas – Pois
invejo-lhe a sua posição. Também gostava de ser independente.
O Sr. Pomposo
– Pelo que lhe ouvi dizer pareceu-me que já o era.
Eu feito homem da
gravata às riscas – Sim…
dentro da medida do impossível…
O Sr. Pomposo
– Dentro da medida do possível, quer V. Ex.ª dizer…
Eu feito homem da
gravata às riscas – If you
say so.
O Sr. Pomposo
– Peço-lhe o especial favor de se não usar palavras estrangeiras.
Considero tal hábito antipatriótico. Uma pessoa esclarecida como V.
Ex.ª deve auxiliar-me nesta minha campanha em favor do
aportuguesamento da língua.
(…)
Felizmente
o elevador chegou ao fim da viagem. Saímos todos para a rua. Um
«chauffeur» bem fardado abre a porta do carro do sr. Pomposo e este
pergunta se nos pode ser útil ou se desejamos que nos leve de carro
a qualquer sítio.
– Por
amor de Deus, meu amigo. Moramos aqui mesmo. De qualquer forma nunca
entro num automóvel.
– Porquê?
– Porque
o automóvel não é uma invenção portuguesa. Trata-se dum
autêntico estrangeirismo. Pessoalmente sou pelos meios de transporte
tradicionais portugueses: a mula, o coche e a cadeirinha. V. Ex.ª,
que é uma pessoa esclarecida, deveria auxiliar-me na minha campanha
pelo aportuguesamento dos meios de transporte, pelo regresso às
velhas tradições que tão bem serviram os nossos avós. Não acha?
Luis
de Sttau Monteiro, “Um
Homem Não Chora”, pp. 32-35,
Ática, Lisboa, 1963.
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