22/03/2016

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Temos as nossas noites insones…


Os poetas conclamam a verdade,
poderiam ser ditadores
e talvez até profetas,
porque temos de esmagá-los
contra uma parede de chamas?
No entanto os poetas são inermes,
a álgebra doce do nosso destino.
Têm um corpo para todos
e uma memória universal,
porque devemos extirpá-los
como se desarreigam ervas impuras?
Temos as nossas noites insones,
mil penosas ruínas
e a palidez dos êxtases do entardecer,
temos bonecas de fogo
como Copélia
e temos seus túrgidos de mal
que nos infectam corações e rins
porque não nos rendemos…
Deixemo-los com a sua linguagem, o exemplo
das suas vidas nuas
irá suster-nos até ao fim do mundo
quando pegarem nas trombetas
e tocarem para nós.


Alda Merini, “A Terra Santa”, pág. 95, Cotovia, 2004. Tradução de Clara Rowland.



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