21/03/2016

...


Perguntas do jornalista Sérgio Almeida para um artigo que saiu no Jornal de Notícias de 21-03-2016.


1 As Edições 50 kg são a prova de que não só a edição de poesia continua bem viva como tem sabido de certa forma reinventar-se, não estando tão dependente do papel das grandes editoras?

R: Prova, não o diria, continuo a achar que as Edições 50kg, por si só, não têm uma presença relevante para servir um embandeirar desse arco da sobrevivência editorial da poesia. No entanto penso que já há muito que existe uma pretensão que a poesia se vai renovando nas pequenas editoras. Basta pensar, por exemplo, que antes destes conglomerados editoriais que agora proliferam, uma editora como a Assírio, que não era propriamente pequena, insistia em se denominar como pequena editora para assim reivindicar um certo papel de luta e de resistência. Porém acho, que as “grandes editoras” assumiram sempre, pelo menos em relação à poesia, mas também penso que o fazem em relação a outros géneros literários, o papel de antologiadores – de apresentadores à urbi e à orbi de autores já consagrados, tomando-se por formadores e conservadores de um cânone poético. E isto de certa forma era uma atitude que se podia entender. O problema que se põe agora é que esse papel de certo modo inverteu-se, porque é necessário alimentar um mercado editorial e é aí que estes “conglomerados”, que também já possuem meios de expressão da crítica, que são donos de revistas literárias, começaram a introduzir novos autores, que francamente penso, não passam por um crivo de “qualidade” isento e criticamente eficaz. Não sei onde isto vai parar, mas como dizia o Cesariny: “em algum sítio muito longe”.


2 Falta arrojo às editoras convencionais?

R: Falta pensarem no que é importante e no que fica e não no que vende. Uma biografia do Toni Carreira vende, toda a gente sabe, mas é tão importante como ter um segundo cu!


3 Pela tua experiência enquanto editor, achas que o número de leitores de poesia ao longo da última década tem sofrido alguma alteração significativa?

R: Sim, foi reduzindo em termos de números. São menos os leitores. E a redução das tiragens são o reflexo disso. E não penso que foi a introdução das novas tecnologias, ou sequer a crise a razão principal. Nunca foi tão fácil possuir livros de poesia. No alfarrabismo é possível obter excelentes livros de poesia a preços quase irrisórios. O motivo para tal redução de leitores de poesia, a meu ver, é o facto de não existir deveras uma comunicação geracional. O saber que se acumulou não está a passar. E os órgãos de comunicação social (salvo raras excepções) desistiram desse papel. Por palavras mais situacionistas direi que me parece que o “Espectáculo” é o que vigora.



4 A manutenção ou diminuição desse número significa que as imensas iniciativas sobre poesia que existem pelo país fora têm uma eficácia diminuta?
R: Essas iniciativas sobre a poesia estão na ordem do espectáculo. É por isso que se assiste a espectáculos poéticos, com música, cuspidores de fogo, novos jograis, e strippers… Isso tudo para plena satisfação de um público consumidor de espectáculos… Mas leitores? Ui tá quieto!

RAR

Sem comentários: