11/06/2013

Luis de...




           Mana Mariquinhas,
amanhã, que é festa,
não irei à escola,
não irás à mestra
            Porás o corpete
e a saia mais bela,
a gola bordada,
touca e fina rede,
            e vestir-me-ão
a camisa fresca,
saio de lã fina,
meias de estamenha;
            se estiver bom tempo,
porei a monteira
que me deu na Páscoa
a avó, como prenda,
            e a fita rubra
com a medalha presa,
que o vizinho trouxe
quando foi à feira.
            Iremos à missa,
veremos a igreja,
dá-nos um cruzado
minha tia oleira,
            compramos com ele
(mas que ninguém veja)
tremoço e grão
prà nossa merenda;
            chegando a tardinha,
na nossa praceta,
brincarei ao touro,
e tu com bonecas,
            com as duas irmãs
Joana e Madalena
e as duas priminhas
Miquinhas e a vesga;
            e se a mãe quiser
dar as castanhetas
poderás à porta
dançar quanto queiras;
             e ao som do adufe
cantará Andrela:
Nada me valeram,
minha mãe, as ervas;
            e eu de papel
faço uma libré
de amoras tingida
pra que bem pareça,
            e uma carapuça
com muitas ameias;
porei por penacho
duas plumas negras
            do rabo do galo
corrido na cerca
pelo Carnaval
com laranjas lestas;
            numa longa cana
ponho uma bandeira
com duas borlas brancas
nas laçadas densas;
            e em meu cavalinho
ponho uma cabeça
de couro lavrado,
dois fios por rédeas;
            e entrarei na rua
fazendo piruetas
com outros do bairro,
uns quase quarenta.
            Jogaremos canas
perto da praceta
pra que Barbarinha
saia à rua e veja;
            Bárbara, a menina
filha da padeira,
a que me dá sempre
bolos com manteiga,
            porque algumas vezes
fazemos eu e ela
mesmo atrás da porta
nossas maroteiras.

Luis de Góngora

trad. de José Bento.

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