08/06/2013

68…



6.

Há quanto tempo! Cantámos. Fizémos amor. Os dois. Os vinte.
Tu amas-me? Não, não quero mais vinho. Beijei-te. Eu lembro-
-me. Tinhas medo? Eu tive. Quando o chui chamou o meu nome
e o rádio explodiu. Depois deixaram-nos passar.
E os degraus ainda estão lá, cheios de pó e de pontas de
cigarros afogadas em leite.
Escuta… bate. O meu coração rebentou como uma granada.
Fiquei presa pelos cabelos. E tu dormias. Nu.

Que sede esta me estrangula os olhos e me tira
a serenidade que plantaste em mim, ainda ontem…

p.21



8.

Nasci nos carris de mármore deste telhado de bruma.
Uma aranha me abriu os braços quentes de erva quei-
mada e me apontou o lugar. Ali! Não voltes ao barco
De hastes de musgo, o leão ainda está vivo.
Entrelaça todos os caminhos e morre com uma gota de luar nas mãos.
Não, esta abelha azul veio do meu ventre de água. Sai
daqui com um sorriso pálido nos olhos. Mas vem amanhã
ou depois. Colher as constelações que ainda não te dei.
Amanhã ou depois. Um paraíso perdido no meio do nevoeiro
e das balas.

p.25


Lena d’Água, “A Mar Te”, ed. Ulmeiro, Lx, 1984.