E antes? Allen Ginsberg passeava
num supermercado, eu assobiava a ópera dos três vinténs, a Branca estacionava o
carro em frente Escola Técnica, algumas pombas levantavam voo, a Joan Baez
cantava para todos nós. Cantávamos.
Eduardo Guerra Carneiro, “Isto Anda Tudo Ligado”, ed. Cadernos
Peninsulares, p.41, Lisboa, 1970.
São Lázaro, Fontainhas (a
primeira comunhão nos Salesianos, o cheiro a cera e incenso, sòzinho, no grande
altar, o padre a cheirar a alho, o sabor azedo da hóstia, o não poder mastigar,
vontade de vomitar, o fantasma da Ópera, o cão branco, umas eleições presidenciais,
o pão repartido, a caderneta de jogadores roída pelos ratos, a cola feita de
farinha, até o Barrigana!, o boininhas, a vergasta, meu pai escrevendo versos
na sala cheia de janelas com sol a dar-lhe em cheio).
Eduardo Guerra Carneiro, “Isto Anda Tudo
Ligado”, ed. Cadernos Peninsulares, p.43, Lisboa, 1970.
Lumpen, lumpen! Aos baldões vou
contigo por essas ruas estreitas a fugir da chuva. Bebo ao teu lado e ouço as tuas
sórdidas e morrinhentas histórias. Até futebol comento enquanto esperamos os
barcos. Lumpen, lumpen! Meu país de arrabaldes a custo equilibrados na
aguardente e nos jornais desportivos. Lumpen, lumpen! Arrabaldados andamos
todos nós!
Eduardo Guerra Carneiro, “Isto
Anda Tudo Ligado”, ed. Cadernos Peninsulares, p.49, Lisboa, 1970.
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