21/11/2018

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Leiria, 21 de Novembro de 1939 Hoje em Coimbra encontrei à cabeceira da cama de um amigo, encaixilhado, o If do Kipling. Apesar do poema a meu entender ser uma espécie de grande pílula Pink para uso do Império Britânico, o facto de o ver no lugar onde costuma ficar o Cristo, enterneceu-me. Não era precisamente o povo grego arrastado pelo ritmo do Pean, mas era um homem a benzer-se de manhã com meia dúzia de estrofes. É que isto de versos vai de mal a pior. Qualquer dia, nós, os poetas, temos mesmo que pedir desculpa à vizinhança deste feio vício.
Deste vício que Camões pagou tão caro, e que dá frutos bichosos como as Coplas do Jorge Manrique a Ode à Alegria do Schiller.

Miguel Torga, “Diário I”, pág. 118, 1941, Coimbra.

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