17/08/2011

E ainda do "Manual"

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09/08/2011

Oficiosamente d’ Agosto


OSSOS DO OFÍCIO
“Às vezes, se me encosto a esta terra, sinto um embate impetuoso que me arrebata como uma enxurrada e quer submergir-me. Uma voz, um odor, bastam para prender-me e atirar-me quem sabe para onde. Sou feito pedra, humilde, estrume, suco de fruta, vento. Do limite humano não me resta mais do que o instinto de me coagular em palavras, mas estas já não são nada e debato-me como uma árvore ou uma fera que tivesse sido homem e agora é incapaz de se exprimir. Cedo relutante porque sei que a minha natureza é outra e de cada vez encontro no fundo deste ímpeto uma vã saciedade. Todo o esforço para entumecer os sentidos mantendo a consciência conduz a esta derrota. Em suma, é um pecado, como a libertinagem, como o sadismo e a embriaguez.
                O limite humano – o meu – traz em si esta norma: o que quer e não se pode exprimir é pecado. Pior: é futilidade. É-lhe consentido só este perdão: a recordação. Através da recordação o que era desumano e bestial pode talvez resgatar-se e produzir um som de clara razão. Mas logo se tornando recordação deixa de ser tumidez dos sentidos.
                Falo aqui de tentações actuais. Paro diante de um campo desmemoriado, de um céu claro, de um curso de água, de um bosque, buscar a palavra que o traduza todo, até aos fios de erva, até ao odor, até ao vazio. Eu não existo; existe o campo, existe o céu. Existem os meus sentidos, escancarados como bocas a devorar o objecto. Duas naturalidades se defrontam: uma tensa, espasmódica; outra inexorável e bruta. Repito que fico todo tendido para o exterior. Não me sigo a mim próprio, não palpo uma ideia fugidia; em contrapartida, por dentro, o espírito está-me como que estrangulado. Na sua brutalidade este estado é, embora fútil, um esforço de endeusamento através da besta. Como beber ou matar. Se parece ser mais venial e quase meritório porque tende, em suma, para um fruto espiritual, é, todavia, mais venenoso porque é inexplicável da genuína vida interior e por isso sempre pronto a estragar o trabalho legítimo. É uma crise, um motim das faculdades boas que, enganadas por um choque de sentidos, julgam ganhar abandonando-se às coisas. E estas agarram, arrastam, tragam como um mar agitado, ilusórias, inagarráveis por seu turno, como espuma. Há nelas qualquer coisa de obsceno: exactamente o mesmo abandonar-se ao sexo e querer-lhe narrar as sensações secretas.
                Na recordação o tumulto se aplaca. Isto diz-se, bem entendido, da recordação-renúncia, da recordação que soube tornar-se senhora das coisas através da separação, a assunção do natural ao absoluto. De aqui em que o mais seguro viveiro de símbolos é o da infância: sensações remotas que se despojaram, macerando-se longamente, de toda a matéria e assumiram na memória a transparência do espírito. De aqui vem que aos talentos contemplativos nunca se recomendará suficientemente que tapem os sentidos diante da realidade e se contentem da que, filtrada pelos anos, aflora do fundo da fechada consciência. A ilusória riqueza do real não pode ser justamente avaliada senão por aqueles que sabem que só é nosso o que sempre possuímos; e isto explica porque são tão inenarravelmente aborrecidos os livros de viagens ou, como se diz, documentais. Um só documento nos interessa sempre e resulta novo: o que sabíamos desde crianças.
Por que, deveras, na infância éramos outra coisa. Pequenos brutos inscientes, o real nos acolhia como acolhe sementes e pedras. Nenhum perigo que então admirássemos e quiséssemos mergulhar no seu sorvedouro. Mas a história secreta da infância é feita precisamente de sobressaltos e dos arrancos que nos extirparam do real, pelos quais – hoje uma forma, amanhã uma cor –, através da linguagem nos contrapusemos às coisas e aprendemos a avaliá-las e contemplá-las. No fundo o que é preciso para nós é, portanto, esta concórdia discordante de encontros, de descobertas, de desenvolvimento. A tentação de reatingir como num abraço antinatural o universo pré-infantil das coisas, é o pecado. Se é possível, cabe-nos exercitar no oposto, repelir aquela naturalidade que à volta lhe restar, repeli-la para poder possuir. Mas bem pouco a vida adulta pode acrescentar ao tesouro infantil de descobertas. Pode-se, porém, trazer para a luz aquelas formas primitivas e contemplar-lhes o viço, como raízes que o terriço dos dias continuou a nutrir. Depois, de coisa coisa nasce e os dias futuros germinarão nestas cepas.”

Cesare Pavese, “ Férias de Agosto”, pp. 162-164, trad. Ana Hatherly, Quasi, Famalicão, 2008.


05/08/2011

Da América com amor...

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Nota: grafia antiga

“Vejamos porém o que nos diz Herbert Spencer[1] no seu Dialogo e no Discurso sobre os Americanos. Começa por louvar o enorme desenvolvimento da sua civilisação material: a grandeza e magnificiencia das suas cidades, o esplendor de Nova York; a actividade das gentes, o seu poder de trabalho, de invenção e de decisão; as suas riquezas mineira, a enormidade dos seus campos virgens e fertilíssimos. Nota depois que eles poderam lançar mão, e de facto lançaram, dos progressos realisados nas nações da Europa, corrigindo-lhe os defeitos e aproveitando a longa experiencia desses velhos paizes. Reconhece por fim que podem legitimamente aspirar a produzir, passado tempo, uma civilisação mais grandiosa do que todas as conhecidas até hoje. – Mas cita-lhes tambem a sua vida violenta, feita a alta pressão, a qual acarreta consigo os grandes desastres financeiros e produz o Surmenage, a incapacidade permanente e as correspondentes heranças para as gerações que se sucedem. Diz-lhes que o seu unico interesse está nos negocios, que esses são o fim superior de sua vida, e que eles se contrapõem naturalmente o enfado e a existência sem encantos. E condena o desprezo ilegítimo a que votam os seus competidores na luta desses negocios. Relativamente á politica, afirma e prova a intensa corrupção que lavra naquele paiz, a real negação da liberdade, a falta do respeito mutuo que faz a essência da vida ingleza, a luta tremenda, sem nobreza, dos interesses materiais. Numa sintese lapidar, o filosofo acaba por lhes aconselhar que substituam o poder intelectual pela beleza moral, e o desejo de serem admirados pelo de serem amados.”

Op. Cit in Antonio Arroyo, “A Viagem de Antero de Quental á America do Norte”, pp.67-69, Fac-smile da Estante Editora, 1992.



Herbert Spencer  (1820-1903)

02/08/2011

Se numa altercação alguém sobe o nível quando aquece...

   "Rara era a noite em que Antero e Germano não tinham uma discussão violentíssima que terminava duma forma sempre engraçada. Dormiam ambos no mesmo quarto e davam-se como irmãos (1). Chegados ao quarto, começavam conversando tranquilamente; mas a pouco e pouco iam perdendo a serenidade, já altercavam com calor. Do tu cá, tu lá, passavam ao você, até terminarem, no auge da contenda, em V. Exa. diz, faz ou acontece.

Nesse ponto intervinha João de Deus:
- Oh! menino, Oh! menino!...

Antero metia-se então na cama, apagava a luz e dizia sacudidamente:

- Boa noite.

E Germano, sentando-se á mesa, punha-se a encher linguados para o jornal.

Os seus temperamentos eram muito dessemelhantes. Antero ingenuo, leal e arrebatado; Germano por vezes aspero, mas sempre penetrante, e aproveitando cruamente as fraquezas ou ingenuidades do adversario. Entre o cajado de Antero e o florete de Germano, aparecia porém a Senhora da Graça, o João de Deus, a serenar os combatentes."

Antonio Arroyo in "A Viagem de Antero de Quental á America do Norte", pp.19-20, Fac-smile da Estante Editora, 1992.

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_________________
(1) As filhas de Germano Vieira de Meireles, como se sabe, foram herdeiras dos bens de Antero de Quental.

31/07/2011

E foi mais ou menos assim...

Lançamento do número 5 da Revista de Poesia Piolho na Livraria Gato Vadio.
Rui Tinoco e A. Dasilva O.
Lançamento da Revista Piolho Nº 5
A. Dasilva O.



Livraria Gato Vadio

Leituras

Leituras

Leituras

Leituras

Leitura e Performance

Rui Tinoco

Está lançado...

29/07/2011

Piolho 5, revista de Poesia

Livraria Gato Vádio
Apresentação e leituras
Com A. Dasilva O.
Domingo, 31 de Julho, 17h
Entrada Livre

PIOLHO Revista de Poesia
«Muito me espantaria se daqui saísse vivo.» Rui Azevedo Ribeiro

Das letras...

Um estranho manual tipográfico que explora a possibilidade de criar enigmas e charadas e onde as soluções só podem ser encontradas através de estranhas decifrações tipográficas. Ou seja, mais um livro que nos faz sentir um pouco estúpidos. Tem a mais valia de conter alguns bons exemplos de cercaduras e de ornamentações de textos.

Título: Técnica "Tipográfica"
Autor: Dan Adão (Clovis Soares Maia)
Ano:1967
Edição: Autor - Tipografia São Paulo prop. Zilton Freire de Castro.
Local: Passos (MG) Brasil.


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 Manual de Desenho de Letras

Título: Manual de Desenho de Letras
Autor:José F. Couto
Edição: Edições de Ouro
Data:1963
Local: Rio de Janeiro - Brasil.



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26/07/2011

Não é uma resposta.

não morrerei sem me tornar absolutamente
incompreensível.

Rui Nunes

Como o entendo. Ups!

Rui A. Ribeiro

Pintar até ao fim... 22.., 23... e os seus ateliês...

Margaret Olley (1923-2011)

Margaret Olley (1923-2011)

M. Olley paisagem morta
Margaret Olley, no Ateliê.


Margaret Olley (1923-2011)

Lucien Freud (1922-2011)


L. Freud no ateliê...


Lucien Freud e Francis Bacon
Francis Bacon e Lucien Freud 

...e já agora uma imagem do emblemático ateliê de Francis Bacon