"Rara era a noite em que Antero e Germano não tinham uma discussão violentíssima que terminava duma forma sempre engraçada. Dormiam ambos no mesmo quarto e davam-se como irmãos (1). Chegados ao quarto, começavam conversando tranquilamente; mas a pouco e pouco iam perdendo a serenidade, já altercavam com calor. Do tu cá, tu lá, passavam ao você, até terminarem, no auge da contenda, em V. Exa. diz, faz ou acontece.
Nesse ponto intervinha João de Deus:
- Oh! menino, Oh! menino!...
Antero metia-se então na cama, apagava a luz e dizia sacudidamente:
- Boa noite.
E Germano, sentando-se á mesa, punha-se a encher linguados para o jornal.
Os seus temperamentos eram muito dessemelhantes. Antero ingenuo, leal e arrebatado; Germano por vezes aspero, mas sempre penetrante, e aproveitando cruamente as fraquezas ou ingenuidades do adversario. Entre o cajado de Antero e o florete de Germano, aparecia porém a Senhora da Graça, o João de Deus, a serenar os combatentes."
Antonio Arroyo in "A Viagem de Antero de Quental á America do Norte", pp.19-20, Fac-smile da Estante Editora, 1992.
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(1) As filhas de Germano Vieira de Meireles, como se sabe, foram herdeiras dos bens de Antero de Quental.
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