Quando ontem
adormeci
Na noite de São
João
Havia alegria e
rumor
Estrondos de bombas
luzes de Bengala
Vozes cantigas e
risos
Ao pé das fogueiras
acesas.
No meio da noite
despertei
Não ouvi mais vozes
nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em
quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que
há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras
acesas?
– Estavam todos
dormindo
Estavam todos
deitados
Dormindo
Profundamente
Quando eu tinha seis
anos
Não pude ver o fim
da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais
as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos
êles?
– Estão todos
dormindo
Estão todos
deitados
Dormindo
Profundamente.
Manuel
Bandeira, “Poesias e Prosa”, págs. 210-211, vol. I, Editôra
José Aguilar, Lda., Rio de Janeiro, 1958.