Não me façam partilhar da vossa fraternidade.
Cheguem para lá
o vosso amor...
temei antes pela
vossa pele
Quietos
não tremam não
gemam não suem
Não salivem Não
respirem
Silêncio
Haveis alguma vez
sentido o verdadeiro Terror?
E quando
crianças? No silêncio dos vossos leitos de infantes inocentes e
tenros, alguma vez, audaciosamente, vos perguntastes do Tempo e da
Morte?
Calem-se
Não se atrevam
não tornem a
insinuar a vossa admiração, o vosso orgulho em me conhecer.
Quem sois vós?
Não vos conheço!
Pudesse, embora, a cada uma das vossas formas dar um nome. Poderia
até classificar-vos, ordenar-vos, organizar-vos por categorias,
dar-vos uma posição, uma relação com o Universo.
Quereriam talvez
que vos prestasse esse serviço: seria mais uma vez, um conforto, um
descanso, um abandono, talvez até uma Paixão por mim.
Ó seres quase
erectos, de sexos equívocos, de todos os sexos (anjos?), de faces
amolecidas pela ausência de verdadeiros vícios ou virtudes, que, às
vezes, por perigosos instantes, vos iluminais para adquirir feiçöes
e corpos quase humanos, livrai-me da vossa companhia.
Protegei a vossa
Inocência, a vossa impotência em verdadeiramente vos exaltardes,
livrai-vos principalmente de conhecer o exercício obcessivo das
actividades infames: o mal, a inteligência, a premeditação de
crimes.
A vossa alegria
quotidiana e pública, enjoa-me e repetidamente me faz vomitar.
Há milénios que
urdo projectos silenciosos e obscuros: o homicídio, um qualquer
homicídio redimir-me-ia.
Em breve
precisarei de uma arma.
João
Damasceno
in Pravda
3, ed. Fenda Ediçöes, Outubro de 1985.
Capa: Zepe |