António Ramos Rosa, "O Livro da Ignorância" col..«Pequenos Continentes», Editora Signo Ponta Delgada, Setembro de 1988 capa: José Teófilo Duarte |
"Em ti encontro nos reunidos ramos
a flor que se estende em onda sobre os ombros
O teu rosto abriu-se e a secreta sombra
azulou-se em imagem luminosa
Amo-te nascendo virada para o teu lume
A tua ignorância é música das nascentes
e na tua cabeça há nervos de água
e no teu rosto um timbre de mercúrio
E quanto em ti é sombra
como se reúne pressentindo a árvore
que não deslumbra mas é doçura e morte
mais una em seu outono do que a luz sem sombra"
António Ramos Rosa in «O Livro da Ignorância», p. 12, ed. Signo, Ponta Delgada, 1988.
"Estar amplo é levedar leveza
em consonância com as minúcias animais
que até nas paredes se movem ágeis
cheias do sentido de não o terem mais
E assim toda a vista é o equilíbrio
de um voo inesperado ou de um trânsito que doura
a verdura vegetal Tudo em torno é delicadeza
de um limbo e o sopro da amplitude
O mundo é assim mesmo máquina ligeiríssima
de horas transparentes e de espaços fluviais
Cada minuto verde tem a sua auréola
e a visão é tranquila de uma janela clara
Alguém poderia sonhar a maravilha do ar?
Todo o rumor é frágil diáfano deslumbrante
Tudo permanece intacto e coberto de orvalho"
António Ramos Rosa in «O Livro da Ignorância», p. 63, ed. Signo, Ponta Delgada, 1988.