FINO TRATO
Avança uma pedra
e as pernas abrem
falência
ou a chuva faz fortuna. Motores.
O mover das pedras pode ser verificado
não o resto,
quanto ao menos
mais.
Atrás não lhe ficaram os braços
que eram
andrajos dum corpinho
sem luz nem valor.
Os sábios não pagam, os galos não cantam.
Vão-nos descontando
dos nossos livros de contas:
lázaros brinquedos
fracos tambores
sapatos.
Oh pernas para que vos quero!
p.13
A FALA DOS CIGARROS
A vida encardiu-se
tocam as sinas
as unhas crescem
em curva, o buraco diz.
Os tiros rentes à ventania
reparam em nós.
Eis-nos ao abrigo
das doenças infantis.
Alguém nos recheou de verd
ades, assim Uma esconde Outra
e esse trabalho ingrato
na folha de papel se deita
e esse suor não molha
e essa pena não fere.
p.14
PENDURAR AS ARMAS
A dança traseira das portas
que nos voltam as costas e
a disciplina de confessar
de vento se fazem.
Mas pena de amor pousa frondosa
e o olhar proíbe os piropos de vento.
Minha dona vive sem casa
seu rol de armas seca
pendurado ao sol e dona minha sabe
dividir opiniões
mudar seus filtros.
p.28
Regina Guimarães in “O Extra-Celeste”, AEFLUP – Associação de
Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1986.