"Desde o início, os guerreiros de elite dependiam de ligações a Quioto que requeriam um certo grau de alfabetização cultural. Durante o período de Kamakura, um número significativo de xoguns provinha de famílias nobres de Quioto, sem qualquer identidade militar propriamente dita. Os regimes de guerreiros de Kamakura e depois de Quioto, bem como pequenos governos locais, procuravam talentos entre as famílias nobres de grau intermédio. Assim, não era de admirar que os guerreiros literatos de elite participassem e protegessem a arte nas suas inúmeras formas - desde coleccionar arte e escrever poesia à fundação de templos e imagens budistas e à criação de obras de arte religiosas. A cidade de Kamakura tinha até o seu próprio sistema de templos budistas Zen que reproduziam o de Kyoto.
Para guerreiros com ambições a títulos associados à corte, escrever era essencial para interagir com a nobreza de elite e com o clero. Contudo, não devemos pensar na poesia no sentido moderno do termo: como uma actividade de lazer, um passatempo sem outra função que não fosse tecer comentários sobre a sociedade contemporânea. A poesia, no Japão pré-moderno, podia ser usada para comentar acontecimentos correntes, mas, mais importante que isso, a poesia demonstrava o próprio conhecimento da literatura chinesa e japonesa. Escrever bem, em termos de conteúdo e de forma - a caligrafia também interessa -, era um meio de os nobres de Quioto ascenderem profissionalmente. O monje Jien trocava poesias com Yoritomo, o que deu origem a uma relação mutuamente benéfica; Jien precisava de garantir direitos para as suas terras, e Yoritomo queria obter informações através dele. As pessoas também escreviam poesia juntas, como uma actividade social, associando poemas entre si; um cavaleiro de elite podia ser exposto à humilhação pública se não conseguisse escrever devidamente."
Michael Wert, Samurais - Uma história concisa, pp. 66-67, Esfera dos Livros, Lx, 2020.
De mãos na cinta
Há 4 horas