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21/03/2015

E foi mais ou menos assim...

Produzimos imagens em massa. Não há dados fidedignos acerca da quantidade de fotografias e vídeos que são feitos diariamente. Mas podemos ter alguma ideia pela quantidade que é colocada na internet. Números de 2014 dizem que no Instagram, por minuto, foram colocadas aproximadamente 27300 fotos; no Facebook 208300 igualmente por minuto. E no Youtube por cada minuto foram adicionados cerca de 100 horas de vídeo. Isto para dizer que pouco mais há de pertinente e aliciante, para filósofos; antropólogos e sei-lá; estudiosos de toda a espécie, do que debruçarem-se sobre a questão da “Imagem” e da sua massificação e produção. O que também significa, em alguma instância, uma Kehre (termo filosófico para mudança, pessoalmente prefiro o termo político-insurrecto: «reviralho») constatada pelo abandono duma sociedade da escrita para esta que utiliza as imagens como forma privilegiada, não queria dizer de comunicação – direi antes interacção, entre seres humanos (demasiados). Pensar que se deve usar a imagem porque esta permite uma evidência, ou menos equívocos, lapsos, etc., é no mínimo ilusório! (outro termo imagético). A lei, para já, ainda vai disciplinando o uso da imagem como meio de prova. Porém, face à sociedade de vigilância que insiste em se instalar em nome de uma suposta segurança (que depois se verifica ser só para bens materiais e de determinadas instituições) é só uma questão de tempo para que esta situação seja re”vista”. 
Trago para aqui isto, na sequência da conferência de ontem na FBAUP, com Georges Didi-Huberman e Pawel Moscícki, onde me foi dado a possibilidade de assistir a um outro lado desta questão do uso da imagem. Para meu espanto, vi uma manipulação de imagens que foram retiradas de um todo, de um bloco (a meu ver indivisível), para forçar uma leitura de aproximidades (do tipo isto já previa aquilo) e embora tendo presente as concessões à política do amigável (Aby Warburg). O que ali vigorou foi o reino do unívoco.
Gosto de Didi-Huberman, mas a sobreinterpretação, o exagero hermanêutico que usou das imagens de Eisenstein, dizendo coisas como: «que estas três senhoras (apresentando um frame, uma moldura, do filme do O Couraçado de Potemkin) são o equivalente às três Maria à volta do Cristo» e depois a mesma bitola usada no Chaplin pelo Pawel... Okay, é engraçado, mas não é sério! A questão da intenção disto ou daquilo, ou até do acidente e do que está ausente cabe apenas ao autor... Dizia o Barthes qualquer coisa como: autor morto grau zero da escrita; que o autor não tem passado e que nasceria com o leitor. Parece-me que vivemos na inclinação para esse grau zero, e sem escrita.
RAR 21/03/2015












Serguei Eisenstein e Charlie Chaplin

Edgar Neville, Serguei Eisenstein e Charlie Chaplin