URGENTE!? e Oportunidade!?... Sempre
a mesma historieta. Parece que não se aprende nada! Mas mesmo assim
repete-se aqui uma LiçOom!
“CARTA AO EGITO
A poesia não
necessita de “ser salva” porque o que nós entendemos por poesia
não necessita de espécie alguma de salvação. Todo o acto de
revolta ou de rebeldia, todo o processo de violentar “a natureza”
e de desconhecer o direito e a moral é para nós poesia embora não
se plasme, não se fixe, não se possa generalizar – ela
aqui está, implícita, a recusa terminante de amarrar o poeta a uma
técnica, seja qual for, mesmo a mais actual, a mais oportuna,
porque, precisamente, o que o distingue do homem de técnica é um
sentido de não oportunidade, de inoportunidade, que lhe advém duma
clarividência total e duma insubmissão permanente ante os
conceitos, regras e princípios estabelecidos. Com isto não queremos
dizer (Deus nos livre!) que o poeta seja um louco, um visionário,
mas que, se ele tem de possuir uma estética e uma moral é sem
sombra de dúvida, uma estética e uma moral próprias.
A poesia é um meio
de conhecimento e acção de cujos frutos, bons ou maus, só o poeta
aproveita (facto, este, de que muito poucos se dão conta) e daí a
inutilidade dos esforços para ligá-lo a qualquer filosofia,
política ou teologia, inutilidade que se não desmente no caso de
ser o próprio poeta a tentar essa aproximação. É (foi) o caso de
Régio como o de Mayakovsky: a sua voz continuará estranha e o
sentido das suas palavras incompreensível mesmo para aqueles que
escolheu como amigos ou correligionários. É que o poeta é rebelde
sem premeditação, demolidor de tudo e de si próprio,
esforçadamente
anti-caridade-encostada-às-esquinas-de-pistola-em-punho ou
caneta-na-mão-lágrima-de-jacaré.
Daí que resultem
contraditórios os termos de poeta católico, marxista, surrealista,
existencialista, anarquista ou socialista, quando não se desconhece
que só ao poeta é dado compreender o poeta. Daí que resultem
ridículas as homenagens colarinho-alto ou selecta-de-infância com
que é costume, aqui e lá fora, enfaixar o cadáver daqueles como
Fernando Pessoa, Rimbaud ou Gomes Leal foram em vida o mais esforçado
testemunho contra o bom-senso-não-deites-a-língua-de-fora.
O que possa haver
de menos compreensível em tudo isto resulta do facto de que toda a
explicação necessita de uma outra explicação para ser
compreendida. Aquilo que de um modo imediato é para nós verdadeiro
só será inteligível para outrem depois de uma determinada
“mastigação” durante cujo processo já todo o objecto em causa
adquiriu nova cor, nova forma, novo ou novos sentidos de
interpretação. O poeta tem a clarividẽncia desta transformação
e daí a sua atitude, sempre de recusa a qualquer espécie de
imposição, e ainda quando nos parece que um dos seus gestos adquire
uma cor mais conformista, ou um tom menos violento, ele não é mais
do que uma forma diferente de recusa.”
Pedro Oom (1949)