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21/10/2012

Café Com Vivo...


OS TEMPOS NÃO

Os tempos não vão bons para nós, os mortos.
Fala-se demais nestes tempos (inclusivé cala-se).
As palavras esmagam-se entre o silêncio
que as cerca e o silêncio que transportam.

É pelo hálito que te conheço  no entanto
o mesmo escultor modelou os teus ouvidos
e a minha voz, agora silenciosa porque nestes tempos
fala-se demais são tempos de poucas palavras.

Falo contigo demais assim me calo e porque
te pertence esta gramática assim te falta
e eis por que todos temos a perder e por que é
cada vez mais pesada a paz dos cemitérios.

Manuel António Pina in ‘ Ainda Não É O Fim Nem O Princípio Do Mundo Calma É Apenas Um Pouco Tarde’, p.11, 2ªed., ed. A Erva Daninha, 1982.

22/07/2010

Por causa de um inquérito que confirma o meu espírito estruturalmente desobediente - lembrei-me deste poema

DESTA MANEIRA FALOU ULISSES...

Falo por mim, e por ti me calo
De modo que fica tudo entre nós
Literatura que faço, me fazes
ó palavras! - mas eu onde estou ou quem?

É isto falar, caminhar? ("Ως ἐραὺ) - Volto
para casa para a pátria pura página
interior onde a voz dorme o
seu sono que as larvas povoam

Aí, no fundo da morte, se celebram
as chamadas núpcias literárias, o encontro do
escritor com o seu silêncio. Escrevo para casa
Conto estas aventuras extraordinárias

Manuel António Pina in "Ainda Não é o Fim / Nem o Princípio do Mundo /Calma / É Apenas um Pouco Tarde" ed. Erva Daninha, p.23, 1982, Porto.