40 Sonnets (Inedits?)
De António Lobo de Carvalho (O Lobo da Madragoa)
por
Claude Maffre
Manuscrito de António Lobo de Carvalho (O Lobo da Madragoa) |
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ms.
8582
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ms. 8793
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éd.
de 1852
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nombre total de
sonnets………
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87
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77
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186
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sonnets se trouvant également dans l’édition de 1852.......…….
dont: comuns aux 2 ms…….
non comuns………
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54
34
20
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59
34
25
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sonnets non publiés en 1852…
dont:
comuns aux 2 ms……
non
comuns…………
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33
12
22
|
19
12
6
|
|
I.
Premier
Groupe:
Manuscrit 8582, Sonnets 1 à 34
1.
ms.
8582, p.5
Neste
soneto finge Lobo conversar com hum amigo. He huma satira aos Capelistas
Amigo Que soneto he este teu? Fizeste-a boa,
Com quem Lobo, com quem jogas
as cristas?
Naó vez que nesta terra os
Capelistas,
Saó os primeiros homens de
Lisboa?
Queima a satira; faze-lhe huma
lôa.
Chamando-lhes
bons homens, bons violistas,
Naõ
vez, que sem que tu os taes envistas,
Tens
o Macedo acezo pella proa?
Lobo Sim, amigo, nasci para
trabalhos;
Naõ duvido
faraó das minhas peles
Manguitos,
tiras, luvas, e retalhos;
Mas se os
versos naó forem, mais que aquelles,
Quer sejaó
bons rapazes, quer bandalhos,
Eu sempre (ad
cautellam) cago nelles.
2.
ms.
8582, p.9
Ao
mesmo[1]
Pontes, milhafre, prole de Sovellas,
Gandaeiro
de nobres apelidos
Tu
perzumes, que aquelles saó perdidos
Vagantes
para o Fisco das Capellas?
Se
na nota encontraste essas novellas,
Em
mínimos impostos esquecidos,
Dexa-as
ir aos Legados naó cumpridos,
Que
os doidos do Hospital, se servaó dellas.
Naó
sacudes em ti taó largo Hizope,
Que
inda que seques toda a benta Pia
Naó
te lavas por mais que o Mar ensope:
Nem
perzumas ter outra Senhoria,
Pois
se hum teu Avó sobio ao tope,
Outro
poz o solar na padaria.
3.
ms.
8582, p.13
Ao
Soneto q’ fez Joaó Xavier de Mattos, aos anos do Conde Pombeiro, que
principia:
O roxo Baccho, que expremendo
andava,
Soneto
Mais que
nunca, por sóbrio, por discreto
Campaste meu
Joaó, que o Mez passado,
Algum Deos do
Barreiro viste ao lado,
Fosse qual
fosse, eu nisso naó me metto:
O que sei he
que vi hum teu soneto
Feito entre
Muzas, onde tinha andado,
Vinho a trez
tornos, tudo alvoroçado,
Baccho a tombos, Copido n’hum
terceto:
Que morres feito hum Cisne, he
sem demora
Pois pegando a beber toda a
Assemblea,
Começaste a cantar co vós canora:
Isso naó he Poezia, he jacobéa;
Quem faz anos, que os faça muito
embora,
Bebe tu, naó te importe a vida
alhea.
4.
ms.
8582, p.14
A morte do Abbade de Polvoreira,
Jozé Moreira da Silva.
Deserta
solitária Polvoreira
Agora
está de todo abandonada,
Já de teu Cedro á sombra dilatada
Naó dorme Guimaréns sem
cabeleira:
Como está só! Nem huma choradeira
S’encontra ao pé de ti, nem pella
estrada,
Quando nessa espeçura bem
povoada,
De carne, vinho e Paó, foste huma
feira.
Tarde, ou nunca hum l’Abbé ahi se apanha,
Que a Momo, e a Baccho no seu lar
hospede
Com tanto aceio, porfuzaó
tamanha;;
Mas tem por certo e o mesmo cazo
o pede,
Que ao atravessar do Lethes a
campanha,
Se foi com falla, naó morreu com
sede.
5.
ms.
8582, .22
Ao mesmo[2],
por occaziaó de huma Funçaó que fez em Sacavem, constou de festa de Igreja,
touros etc., querendo elle mesmo ser o Pregador, pedio licença ao Patriarcha
Saldanha, que lha naó quis conceder, porm o Talaya mandando preparar huma Cela
rediculamente armada, recitou nella hum Elogio a El Rei D. Jozé, a quem se
derigia a ditta função.
Pregaste
meu Jan-Dias gentilmente,
Contricto Sacavem assim o abona,
E a plebe excomungada entaó
chorona,
De pranto fez no Tejo horrenda
enchente.
Julgaraó ser de Predica
insipiente
Quem de lança a Cavallo só
blazonna
Mas em textos de Rego, Paiva e
Pona,
O que aos burros se faz, fizeste
á gente!
Duro freio puzeste a esse malvado
Saloio, que mudando hoje de
trilho,
Pregador te acredita, jubilado.
O que me resta agora he se te
pilho
Nas temporas que vem, feito
Prelado
A dar Ordens menores a teu Filho[3].
6.
ms
8582, p. 23
Tirando
o Tenente General Bartholomeu da Costa da Fundiçaó a Estatua Equestre, achou a
rara ideia de fazer trabalhar os Algaravios em silencio.
Qual vil Galego que enrolhando as bragas,
C’o
sentido no cobre ferrugento
Passa
hum homem na rua de S. Bento[4],
Saó
e salvo do impeto das vagas.
Os
algarves tambem, que a lingoa em chagas
Tem,
das pulhas que dizem cento a cento,
A
Regia Estatua pôem a salvamento,
Da
horrenda innundaçaó das suas pragas.
O
Insigne Costa á Maquina os convida,
Mostrando-lhe
hum tonel de inchaçaó bruta
Onde
os Caffres se banhem sem medida:
«Leva
rumor (lhe diz) que ao fim da luta,
Vinho
mudo será vossa bebida,
Até
que rebenteis filhos da puta.»
7.
ms.
8582, p.27
Aos
Deoses do Gentilismo, que o Marquez de Pombal tinha mandado tirar do bom Jezus
do Monte, e que depois de sua morte foraó colocados no mesmo Santuario.
Apollo, Ganimedes e Narcizo,
No Limbo de Val d’este encarcerados,
Já
o tempo chegou, que a ira dos fados
O
horror da pena, vos converte em rizo.
Quantas
aranhas, quanto pó devizo
Que
a prizaó vos teceu nos estufados,
Varre-se
tudo, e lêde alvoroçados,
Deste
correio o mais gostoso avizo.
De
Abril aos vinte e sinco, e mais dois dias,
Borrou-se
a sua Estatua, o seu governo,
Ao
Amado das Naçoés das Porfecias.»
Quero
dizer, segundo o meu caderno,
Que
o Marquez de Pombal vosso Messias,
Vai
ter com vosco breve-mente ao Inferno.
8.
ms.
8582, p.29
Á morte
do celebre Acipreste de N. S.ª de Guimarens, Poeta gotico, Cafre da Europa,
fallador Eterno, liberal aparente, e caritativo de relâmpago.
Aqui jaz o Acipreste, que truncado[5]
Cahio
já de velhice ao vicio adusto,
Hao-de-lhe
as Musas erguer cad’anno hum Busto.
Em
quanto houver quem pinte louça em Prado:
Barrete,
e Murça, tudo abandonado
Da
Oliveira pendura ao tronco Augusto,
Por
náo ter sucessor loquas sem susto,
Que
mentisse como elle em tom rasgado:
Foi
do sancto favor flagelo inniquo
E
depois que abjurou Venus e Baccho,
Ficou
sendo o seu Deos o seu bolsico;
Mas
com ter de vinténs hum largo saco,
Nunca
deo mais ao Mendicante, e ao Ricco
Que
huma pitada em cobre, ou em tabaco[6].
9.
ms.
8582, p.30[7]
Ao
Fidalgo de Pantomina Antonio Jozé de Brito, jazendo no Limoneiro pelas suas
costumadas destrezas.
Naó há prizaó no Mundo mais decente:
Guarda Brito a vergonha na barriga,
Que o teu cazo naó he cazo de briga,
Antes
foi alegraó, que deste á gente:
O
Sáavedra e o Nicóz fortuna ingente
Fizeraó
ambos c’ao falçaria intriga,
Hum
foi Nuncio volante, outro se diga
Guarda-mor
do Bogio eternamente:
Tu
tambem até ir p’ra o Limoeiro
Correste
atraz das honras como hú galgo,
Bacharel,
Auditôr, depois Porteiro:
Oh
gram bazofia, se naó for mais algo,
Taó
máo era o Alvará de Caloteiro,
Que
mais querias para ser Fidalgo?
10. ms. 8582, p.33
Satisfaçaó que dá o Lobo a S.
Braz, pello Soneto antecedente[8],
em occaziaó que se achava com huma grande tosse.
Nem
verdade meu Santo, nem cordura
Tratei c’o graó Mecenas das
gargantas,
Quando apenas podia ás vossas
plantas
Queixar-me só da minha ventura.
Gastou-se hum anno té me vir
madura
A seria contriçaó dessas maós
santas;
Por menos culpa, tem-se visto
tantas
Guellas como a minha á dependura!
Bendito seja Braz do Tejo ao
Nillo!
Cantem comigo as Musas em magote
Do humano servidor o nobre
azillo.
Antes que o fado máu daqui me
enxote
Daime vós, limpo e secco o
gorgomilo,
Que a côdea tenho eu cá em Saó
Calote.
11. ms. 8582, p.35
A hum
desfio, que tiveraó dois officiaes de Ordenanças, que pucháraó pelas espadas,
sem as saber manejar.
Mil parabens, Lisboa, hoje te ordena,
Te
pendura por sêllo na patente,
Rompendo
o campo Campiaó valente,
Rival
d’Eugenio, assombro de Turenna!
Hoje
he que tu de Marte honras a scena
Brandindo
esse espontaó omnipotente,
Que
se chegue algum caó até mordente,
Veras
se tens na maó arrocho o penna.
Deixás-te
as nove Irmans, foi acção crúa,
Mas
vendo o Sancho Pança, o desapego,
Tiras
o Louro da fronte, e o põe na tua:
Tens
de graça as insígnias deste emprego,
A
banda entre os rapazes dessa rua,
A
golla n’hum xouriço de Galego.
12. ms. 8582, p. 36
A huma
grande maçada, que se deu no largo das Olarias em huns clérigos tumbeiros.
Lameiras velho, tu, e o teu menino
Sois
papões do bairro dos oleiros
Que
elle dezanca os clérigos tumbeiros
E
tu lhe acodes c’o bastaó campino.
Sahio
teu bravo filho no ar ferino
Qual
Avô, bravo Pança dos terceiros,
Se
o Padre c’o elle uzou termos groceiros,
Foraó
bem dados, sirvaó-lhe de ensino.
A
estas horas, que ás vezes saó mingoadas
O
bronco Padre em cantochão se oferece
Á
reza das merces já sepultadas.
Teu
filho, que em pobreza e honra cresce,
Talves
lhe respondeu ás arrochadas,
Por
naó ter outra couza que lhe desse.
13. ms 8582, p.39
A hum
cavalheiro de Provincia, que dezia, que era parente da Familia mais nobre de
Portugal.
Doutor das peles, Bacharel felpudo,
Fidalgo na Provincia, e na aliança,
Sem
vintém, sem real, e sem esperança
Donde
elle haja de vir, que he mais que tudo:
Chefe
de tolos, mocetão pernudo,
Bazofio
eterno, dado todo á chansa,
Que
aspirando a morrer na lei de França
He
hum martyr galego assás patudo:
Eilo
que chega; o Toiro dos rapazes
Naó
traz mais gente posta em exercício,
Que
elle traz dos Versistas, seus sequazes:
Ora
asneira a valer serve este officio;
Mas
dá cá essa maó, façamos pazes,
Naó
vai a murmurar que hés meu patricio.
14. ms. 8582, p.40
Ao
Marquez de Penalva, senhorio das Cazas onde o Author morava, sendo notoficado
pelo Feitor do Marquez, lhe respondeu com o seguinte, depois de despejar.
Qual duro Freitas, que a homenagem zella,
Antes
que a praça entregue à maó armada
Busca
do Sancho a urna afferralhada,
E
as chaves que aseitou introduz nella;
Assim
eu que os Esbirros da janella
Persentindo
stou sempre ao pé da escada
Em
vossas maós Marquez, desta Morada
Reponho
a chave e me despesso della:
Antes
que a enxerga o tal Feitor me venda
No
Castello, de Mestre de Meninos
C’o
favor do Manique hirei pôr tenda:
Aqui
semestres passarei genuinos
Que
a entrada franca, e o fiador á Renda
Tudo
fica á eleição dos Inquilinos.
15. ms. 8582, p. 46[9]
À
Procissaó que se fez por occaziaó do Desacato de Palmella.
Vaó tristes Cortezaós de dor singidos,
C’os as maós erguidas, olhos decadentes,
Todos
de luto, todos penitentes
Do
seu mal, e do alheo confundidos:
Soaó
contra Palmella altos gemidos,
Mas
em vez de taó pios convertentes,
Outos
varoés nas Artes emninentes
De
ponto em branco houveraó d’hir vestidos.
Sem
mais pingos de cera, nem fumaça,
Levem
ao peito os Mestres d’obra prima
D’hum
pavio d’esparto huma baraça.
Eis-aqui
o acto, que o bom Deos estima
E,
se tal prossiçaó deve hir á Graça,
Vá
direita ao Cardal q’ he logo asima[10].
16. ms. 8582, p. 47
Aos
empregos que estavaó dando a pessoas incapazes de os desempenhar no tempo d’El
Rei D. Joaó 5º.
A Cruz alçada, Oremus, e hum corsário,
Que
esmolas guinda ás gentes importuno,
Deste
bom terço sae hum bom gatuno,
Co’a
faca n’huma maó, n’outra o rozario.
Se
aduba hum Caldeiraó hum usurário
Passa
logo da plebe a ser tribuno,
E
alem das Aguas-livre, fica alunno
No
subsidio de alcunha o literário!
Vos,
do frondoso Lethe abitadores
Vinde
ao Tejo outra vez, vede o chuveiro
De
Siganos, que saó nossos Pastores:
Róe
a estupida traça o Sceptro inteiro;
Pegue
nelle hum de vós, Reáes Senhores,
O
Segundo Joaó, José Primeiro!
17. ms. 8582, p. 49[11]
A hum
Leigo do Convento de Jesus, chamado Frei António da Angustias.
Borracho de estamenha, ôdre sarnento,
Mil parabens te dou ao novo estado,
Que
de estupido Leigo a hum jubilado
Lente
de rôlhas vais com largo vento:
Se
á longos anos metes fogo lento
Nessa
pança, que a mais de vinho aguado,
Frei
Bordaó será hoje o teu Prelado,
Adega
desta caza o teu Convento.
Bebe
esponja claustral, thé que a fumaça
Das
vasilhas de França encha as pichorras
D’humas
bêbadas tripas de outra raça;
E
antes que os limos dos Toneis escorras,
Fuja
o do Carmo, fuja o leaó da Graça,
Que
hoje o que reina he o leaó dos Borras!
18. ms. 8582, p.53
A Frei
Mansilha
Quem achasse ou souber de hum venerando
Camafeu,
de peruca assas comprida,
Verde
negro de cor, a barba erguida,
Por
modo que na prôa está fumando:
A
cruz no peito quasi tremulando
No
listaó de huma braça bem medida,
A
maó direita nos calçoés metida,
Por
modo que as alforges vai cossando:
O
manto senatório, mal traçado
Sobre
a bola da pança, o aspeto misto,
Em
ar de homem-zarraó alcatruzado:
Va
dizer onde está o tal registo
A
frei calvo, Esmoler, que pello achado,
Dá
dois coices a quem lhe souber disto.
19. ms. 8582, p.56
A
grande quantidade de Ladroés, que havia em Lisboa os quaes chegáraó a roubar de
dia.
Fechem-se os Tribunaes, ninguém mais
queira
Sahir
fora caza, e por cautela
Tranque-se
a porta, tranque-se a janella
Até
ver no que pára a ladroeira.
Naó
ha lugar seguro; a vez primeira
Que
algum dos taes menos me atropela
Vai-se
a bolsa, vai-se a fivela,
E
a mesma vida cahe na ratoeira:
Deos
se lembre de nós, que naó he graça
Darem
c’hum tiro cabo de meus dias,
E
porem-me em S. Roque a ver quem passa[12].
Fassaó-se
Preces pelas Freguezias,
Que
se naó abrandar esta desgraça,
Naó
me arredo do pé de minhas tias.
20. ms. 8582, p66
Á moda
dos Espadins, ou Rocas, que se uzavaó muito dianteiros, e atravessados.
Inda naó he (sô tollo) esta advertencia
Ás
trancinhas tocante, e ao casquete;
Quero
só que reprehenda o seu florete,
Que
anda exposto, a lhe armar huá pendencia
Fassa-o
vir mais atraz, que hé insolencia
Que
a gente que vem vindo ahi se’espete,
Nem
você pode ver por onde se mette,
Se
he tanta a perna, tanta a concurrencia.
Tollos
há, bem sei, de humor taó brabos,
Que
a fedúcia (se ouver quem lha desminta)
Tudo
logo ali vai com mil diabos;
Mas
você em tal caso está na tinta;
Metta
pois na barriga a folha e cabos,
Já
que so a ponteira traz á sinta.
21. ms. 8582, p.67
Á
grande, e redicula quantidade de papeis que se imprimiaó naquele tempo.
Que naó oisa eu gritar neste Rocio
Nessas
ruas, e becos de Lisboa,
Mais
que hum milhaó de cegos que apregoa
Papeis
sem graça, versos com bafio!
Passa
hum mêz, passa hum anno, e sai a fio
Mao
Entremez, má Eglogoa, má Loa,
Sem
que haja ao menos huma couza boa
Entre
tantas, taó dignas de bafio!
Que
he d’esta gente sábia que critica
E
a tudo que he alheio dá de rosto,
Por
que o seu no tinteiro deixar ficar?
Serto
hé que o Estudo cansa e dá disgosto,
Bom
he ralhar: bem asno he quem se aplica.
Basta
gritar, boa critica, bom gosto!...
22. ms. 8582, p. 68
Aos que
poem o lenço na bôcca quando sahem do Theâtro.
Anda huma seita aqui de semi-doentes,
Qu’entre
as mais leis de profissaó comua,
Todos
haó de trazer em vendo a Lua,
Por
insignia hum farrapo sobre os dentes.
Ao
vir da Opera esperaó que as mais gentes
Sayaó
primeiro, em quanto a testa sua,
E
fingir devem que o ar os atenua,
A
modo de peneiras transparentes.
Foi
de tal instituto e formulario
Piégas
fundador, que a sua norma
Pouco
vio decair do seu primário;
Mas
hum guarda do tronco aqui m’informa
Que
o seu bambum tem feito Missionario
Para
entrar c’o esta gente na reforma.
23. ms. 8582, p. 186
A Joaó
Xavier de Matos, estando para sahir da sua prizaó da Vidigueira, onde era
ouvidor pelo Exmo Marquez de Niza.
Joaó naó venhas cá, inda que envolto
Vivas
dessa prizaó no horros profundo.
Tens
côdea serta, e cama em que dar fundo
Naó
he taó pouco, tuto questo es molto.
Tudo
aqui com ladroés anda revolto,
O
homem serio c’o traste vagabundo,
Que
mal sabe as tramóias deste mundo
Quem
te dá parabens por te ver solto:
O
Castelo, e o Texugo bem fadado
Saó
os dois a quem podes ter inveja,
Com
o vinho a oito, com as mossas abastado:
Mas
disto rirás tu, sempre assim seja.
Depois
que estás na serra ou no montado
Do
liberal Pastor que reina em Beja[13].
24. ms. 8582, p. 187[14]
Despedindo-se
o Lobo do Conde da Calheta para ir viajar pella provincia de Entre Douro e
Minho.
Vou tentar grande Conde o duro Minho,
Que
o Tejo para mim todo he barrento,
E
como enfermo, que busca outro aposento,
Dá
indícios de que á morte está vizinho:
Vou
ter co’a terra que produz o linho,
Que
as Olandas afronta, e levo intento
De
ver se he taó famozo no alimento
Em
Melgaço o Prezunto, em Ponte o vinho.
As
muralhas da patria, as contrafeitas
Ameixas
de concerva assucaradas,
Tezouras,
facas tortas, e direitas.
Tudo
verei, que o ver naó custa nada,
Guapas
contas Senhor estaó bem feitas,
Mas
naó ha hum vintem para a jornada.
25. ms. 8582, p. 190[15]
Ao
Conde da Calheta em dia de finados, em cuja Capella ouvio o Lobo varias missas.
Huma foi por meu Pai que mil pezares
Nesta
vida me deu de tranca ingente,
E
a minha Mai, eu pedi somente
A
bençaó do alto Ceo por esses ares:
Das
mais todas, Senhor, huma colecta
De
sufrágios porêis no taboleiro,
Que
daqui ao outro mundo se acarreta;
Mas
o momento, que fareis primeiro
Seja
só pertençaó deste Poeta,
Que
está tocando as almas por dinheiro.
Ja
de missas contei sincoenta pares,
Que
hoje ouvi meu conde instantemente,
Que
eu oiço e vejo mui sofrivelmente,
E
ouviria mais se houvera mais altares:
26. ms. 8582, p. 191[16]
Novo
método de dar as boas festas pelo Natal ao Exmo D. Gastaó da Camara
Coutinho.
Teve o Egypto Senhor varoés perfeitos
Qual
no tosco Perzepio houve hum menino,
Que
o rigor estimáraó do ar ferido,
Que
ao Estio ardente andavaó satisfeitos:
Negras
amoras tinhaó por confeitos
Marmelos
bravos duros como sino,
Eraó
desses heroés manjar divino
Lençoés
aos gelos, os penhascos leitos:
So
eu que de christaó tenho algum brio
Ao
tempo que Deos dá naó dobro joelho,
Chamo
ao vento ladraó d’alto assobio;
Mas
por que? Por que falto de aparelho
Tentei
na festa resistir ao frio
Com
vinho novo e de capote velho.
27. ms. 8582, p. 192
Ao
nascimento do Primogenito da Caza de Pombeiro
Venha mais esse heroé do alto destino
Juntar-se
aos seus heroés, parabem seja;
E
gritos que tem dado a negra inveja
De
no berço eu cantar a este menino:
Mas
elle que inda hum fasto peregrino
Vem
encher longos annos que o Ceo veja,
Entaó
he que esta Muza ao que praqueja
Rouca
voz trocará em tom divino:
Juro
excelso Jozé ao nome santo
Que
o Pindo illustra sempre o vosso herdeiro
Nobre
assumpto ha de ser para o meu canto:
Sempre
a boa encherei do graó Pombeiro
Como
hum cego freguez, esto he em quanto
Eu
tocar na sanfona, e elle em dinheiro.
28. ms. 8582, p.193
Aos
anos da Illma D. Maria Magdalena da Cruz Sobral, mulher de Anselmo Je
da Cruz.
Já
naó vemos que austeras Eremitas
Pelas
margens do Nilo á competência,
Huma
canta o rigor de penitencia,
Outra
as graças do Ceo na sorte escritas:
As
Luzardas, e Laustraes, as grandes Ritas
Já
naó vivem com nosco, e a sua auzencia
Parece
haver deixado em decadência,
Ou
sem Mai as virtudes, ou proscritas:
Esta
d’hum ermo hé d’hum claustro a idéa.
Mas
a próvida maó, que está mais alta
Nova
heroína de explendor rodea:
Foi
neste dia, que os annaes esmalta
Quem
vio Matrona de piedade cheia,
Que
em vós nascendo nos fizesse falta.
29. ms. 8582, p. 194[17]
Ao
Fuzarias, afectando desprezo da Corte, por enveja que lhe tem grandes do Reino
seus parentes, da sua antiguidade, riqueza e descripçaó.
Hum Fidalgo mordido das bexigas,
Careca,
e de empoupada cabeleira,
Geral
parente em todo Minho e Beira
Das
cazas mais notáveis, mais antigas:
Prezo
de Estado á conta de intrigas
Do
Marquez seu rival, cuja poeira
Desfez,
como hum heroe, que n’algibeira
Mais
cruzados pussue, que o chaó formigas.
Frautas,
rabecas, armazéns de vinhos
Do
alto Doiro, com outras prendas varias
Tudo
para o seu genio he hum cominho:
Digno
Varaó de eternas luminarias
Quem
será este traste? naõ adevinho,
Mas
parece o Illustríssimo Fuzarias!
30. ms. 8582, p. 198[18]
Que pertendes de mim ó louco
amante
Desconheces meu ser? Que te
ademira;
Naó sabes a razaó por que
conspira
Em minha Natureza o inconstante?
Sou mulher e naó posso ser
constante,
Tu dizes que sou falsa, isso he
mentira,
Fôra falsa se temendo a ira
Sujeitava á firmeza o variante:
Tu queres que por pagar huma
fineza
Eu contrafaça em mim o genio
fero,
Naó pode ser, naó mudo a
natureza;
Tem por gloria saber que te
venero,
Que se em mim se pudesse dar
firmeza
Entaó te tributara amor sincero.
31. ms. 8582, p. 216[19]
A Frei
Manoel de Saó Carlos, pirata dos lugares santos.
Como pode subir a tanta altura
Este
padre dos Caldas, sendo alvar
Era
pobre, hoje rico, e a gaguejar
Caga
razoes que nem o demo o atura
Coloiado
com certa creatura[20]
A
Provincia chegou a governar
O
que lhe falta agora he só pilhar
Carta
de jubilado sem leitura:
Solideo,
já tem, tem livraria,
Boa
cela, bons trastes, bom ardil
Nos
comercios que faz com a Turquia:
Herdou
dos pais hum nascimento vil,
Mas
tomando as liçôes da fradaria
Achou
na Terra Santa o seu Brazil.
32. ms. 8582, p.219
Só tu
Talaia, só tu tens magano
A
lembrança de armarte de cazula
Qual
Bonzo de Nankin co’a barba fula
Benzendo
a Esfera entre o Povo indiano.
Só tu
entrando assim no curro ufano
Escommungas
de estola a vil matula,
Fazendo
as vénias na inflexível mula
Que em
cada sorte consumiste hum anno:
Digo-te
mais, que assim te desfiguras
Que em
prata, e cobre, desd’a popa á prôa,
No caes
de Santarem hum barco apuras;
Mas já
que da Tragedia erraste a loa;
Toda a
vida andarás sem ferraduras
Pobre
burro na feira de Lisboa.
33. ms. 8582, p. 223[21]
Aos
annos de Anselmo Je da Cruz Sobral
Fui ao Templo da Fama, e inda aterrado
Concervo
horror no gesto macilento,
De
Cezar inda achei o sangue lento,
E
o copo de Alexandre envenado:
Ali
chorava Xerxes ja frustado
Das
suas quilhas o vaidoso intento,
Bruto,
Lepido e Antonino igual tormento
Tem
de Amor, e ambiçaó no altar sagrado:
Mas
eis que a Deoza vendo o graó desdoiro,
E
aos Heroes se estendeu em vida ufanos,
Completo
Heroe consulta o santo agoiro.
Lavrando
sobre a urna dos arcanos
Ao
grande Anselmo, grande estatua d’oiro,
Que
lhe offerece por prenda dos seus annos.
34. ms. 8582, p.225[22]
Rendez
vous que o Author mandou fazer ao Camelaó domestico subterraneo, do Exmo
Conde de Pombeiro, Capitaó da Guarda na occaziaó do despacho de S. Exª como seu
bemfeitor.
Parabem meu Camelaó alcatruzado,
Minha
Muza esta vez te fala seria,
Que
o termo chegou já, que da mizeri
No
monturo dormiste abandonado:
A
gola a banda, o ispontaó doirado
Leva
ao Caes em troféo da fama aéria,
Que
hoje tem menos lida, e maior féria
C’hum
sabio Conde hum Capitaó ouzado:
Se
éras burro de moscas guarnecido,
Sedo
porás aos hombros carreteiros
De
galoés côr de palha outro vestido:
E
aprovando-te a pele dois odreiros
Virá
hum dia que o campiaó luzido
Em
tambor te reforme dos Archeiros.
II.
DEUXIÈME
GROUPE:
INÉDITS
DU MANUSCRIT 8793, SONNETS 35 À 40
35. ms. 8793, f. 11 v
Eu
tambem fui d’amor à sacristia,
Que he
hum quarto interior do Talaveiras
Onde
estâo mil milhôes de alcoviteiras
Offertando
a rafada putaria.
O
rancho ali dos rafiôes fazia
Arripiar
os anneis das cabeleiras
Que
descendo-lhe o vinho às algibeiras
Davâo
cada facada que estrugia.
Sahia o
manso corno para fora
E o
pobre chischisbeo vi que trabalha
Por d’albarda
servir qualquer senhora.
No
tecto estava amor d’escudo e malha
Com
seis vinténs na mâo e a pica fora
mijando
em toda aquella vil canalha.
36. ms. 8793, f. 45 v
Agora,
meu Porrâo, que estás cazado
olho
nella até ver, toma sentido,
nâo lhe
mostres afecto desmedido,
para
que nâo te habilite a ser coitado.
Foge-lhe
de estilo afidalgado,
tu
chama-lhe mulher, ella a ti marido,
que
esta frase, que diz mano querido
he o
mesmo que corno desejado.
Isto
d’Opera, assamblea, ou outro encejo,
bem que
nunca lá a leves nâo he perda,
nâo
serás cuco ao menos no desejo.
E s’a
chibança d’honra se nâo herda,
come
chouriço, pôe-te no Alem-Tejo,
bebe-lhe
bom vinho, e vai beber da merda.
37. ms. 8793, f. 46 r
Ao
grande Joâo Carneiro Fuzarias
Fuzarias Maltez, Sancho Carneiro,
de
cravo ostenta aqui trompa e canudo
dizem
as mossas, que parece em tudo
ter
nascido em algum clima estrangeiro.
Elle
as verbas, que dá, peza-as primeiro
da
rasão no fiel com sabio estudo,
nem
dos claros Avós falla no escudo,
por
si mesmo quer só ser cavalheiro.
Eis
aqui hum rapaz que honrara a Toga,
E
he magoa, que a fortuna assim lhe fuja,
Se
ler soubera, como o irmâo advoga.
Mas
apezar da inveja negra e suja,
algum
dia o verá que elle joga
feito
Chefe das tropas d’Azambuja[23].
38. ms. 8793, f. 48 v
Meu
Macedo, tu pregas doutamente
Tens
arte a attrahir, tens energia,
tu na
conversação, na companhia
tens
agrado, tens modo, és eloquente.
Tu tens
merecimento, és bom vivente,
e
contrario dizer he tirannia,
os teus
versos sâo bons, tem armonia,
por
mais que deles ralhe o maldizente.
Louvaste
a Zamperini transportado,
eu to
desculpo, em fim he a primeira
que nos
tem no teatro arrebatado.
Porem
fazendo justiça sempre inteira,
pomada,
anneis, cabelo polvilhado
e no
meio huma coroa, he bandalheira.
39. ms. 8793, f. 52 r
Ao
padre Caldas.
Caldas, nâo venhas cá, levanta hum dique
antes
que o Minho com teu pranto cresca,
que
o Tejo só ladrôes traz na revessa
de
roca, e espada, que nâo tem despique.
Ambos
os sexos, queres que me explique,
Sahe
tudo á noite aver se achâo remessa,
e
o que piza sem susto huma travessa
topa
n’outra os corsarios do Manique.
Braga
e mais Braga, mas dos seus manjares
nâo
comas freiras cuja lingua he bronca,
nem
vinho bebas, que nâo for de Amares.
Joga
o Wisth barato, ou joga a conca,
que
eu se tivera hum só dos seus gaspares
bem
se me dava a mim do mar, que ronca.
40. ms. 8793, f. 64 r
Ao Dr
Santareno sahindo a açoitar com o cabelo tâo crescido que se nâo conhecia.
Encaixado o nariz dentro n’hum cofre
de
cabelo na nuca radicado,
e
o mais na barba de honra pendurado,
digno
emprego de hum mineral enxofre.
Neste
ar, Senhor, que exemplo nunca sofre
caminhava o doutissimo açoitado
fingindo
ao vivo o que se vê pintado
no
painel meretriz de Santo Onofre.
Qual
felpudo câo d’agoa hia ligeiro
coiro
nú e a boca no lombo iniquo
de
monge em trages o ladrâo primeiro.
Vâo
rapador, meu Conde, he que supplico,
e
se o Irmâo Nobre lhes nâo der barbeiro
eu
darei o vintém do meu bolsico.
[1] Le sonnet précédent (p.8 du manuscrit) figure à la
page 84 de lédition de 1852 avec ce titre: «Á nimia sécia do escrivão João
Manuel de Pontes, ostentando ser o mais illustre escrivão que tem apparecido,
desde os Evangelistas até estes tempos». Dans le manuscrit, le titre est le
suivant: «Ao escrivaó do Fisco, das Capellas, Joaó Manoel Xavier de Pontes
Bernardo Macedo Cabral de Moraes Cogominho Alcaçar, por furtar estes apelidos,
afim de se fazer nobre».
[2] Le sonnet précédent, auquel le titre se réfère, se
trouve dans l’édition de 1852 au nº XLII.
[3] «Tinha hum filho, q’ nas Temporas próximas havia tomar
Ordens». Le ms. 8793 renferme également ce sonnet, f. 37 v.
[4] «No tempo invernoso he taó grande a enxurrada nesta
Rua, que tem acontecido muitas vezes serem levadas pella sua furiosa corrente
varias seges. O Author alude aqui ás pessoas, que naó se querendo molhar,
passaó para qualquer lado da Rua ás costas de Galegos, que fazem destas
passages, hum género de Tráfico.»
[5] Era hum homem mao, de hum caracter conforme o descreve
o Lobo. Era muito enthuziasmado em Nobreza, sendo filho de hú pobre oleiro de
Villa de Prado, e hú g.e fallador. Supunha-se hú Poeta eminente,
sendo apenas hú trovista. Era mto. ricco, porem taó miserável, q’ á
força de instancias, he que dava trez reis; foi mto. debochado, e
mentiroso toda a vida.
[6] Ce sonnet se trouve également dans le manuscrit 8793,
f. 69v. Au vers 2 on trouve raio à la
place de vicio. Une note explique
Prado: «lugar em que se faz muito má louça». Enfim le vers 7 contient une leçon
plus claire à touts égards: « Por naó ter sucessor de molde justo».
[7] Ce sonnet est attesté par deux manuscrits: 8583 (p.64)
et 8793 (p.64). Ce dernier écrit Potreiro
es nom Porteiro avec cette notte:
«Era capitão de cavallos». Ce qui nous paraît plus convaincant.
[8] P. 14 de l’édition de 1852
[9] Ce sonnet figure
également dans le ms. 8793 (f. 66 r).
[10] «Entaó estava a Forca no Cardal da Graça».
[11] Le manuscrit 8793 (f. 45 r) atribue ce sonnet à Lobo
de Carvalho et propose le titre suivant: «A Fr. Angustias, leigo de Jesus,
embebando-se em caza da Piemonteza». Au vers 1 sarnento devient sarrento
et au v. 7 Frei Bordaó se change em Frei Bordeaux; cette leçon convient
mieux, semble-t-il, à l’esprit du sonnet et l’allusion aux vasilhas de França, v. 10, s’en trouve ainsi renforcée.
[12] «Era entaó costume expórem-se no Adro de Saó Roque os
mortos que apareciaó».
[13] «O Bispo de Beja favoreceu muito o d.º Mattos».
[14] Le ms. 8793 (f. 49 r) renferme également ce sonnet
avec quelques variantes, dont une, sans aucun doute, doit être considérée comme
la bonne leçon: le mot muralhas, v. 9, devient ici murcellas (graphie du copiste pour morcelas) mieux à sa place dans cette liste de spécialités
gastronomiques du Minho.
[15] Ce sonnet se trouve également dans le ms. 8793 (f. 43
v) qui propose cette leçon, au vers 2: «Que hoje ouvi, Senhor, christãmente».
[16] Ce sonnet figure
aussi dans le ms. 8793 (f. 51 r). Le so
qui commence le vers 9 est supprimé, mais la leçon n’est pas bonne puisqu’il
manqué um pied dans ce cas.
[17] Ce sonnet est attesté par le manuscrit 8793 (f. 71 v).
[18] Ce sonnet se trouve dans le ms. 8793, f. 51 v, mais
sans signature.
[19] Le ms. 8793 (f. 41 v) renferme ce sonnet avec ce
titre: Ao commissario da Terra Sancta;
mais il n’y pas d’indication de nom d’auteur.
[20] «Com o deputado Povoa da mesma Religiaó». Coloaido est une mauvaise graphie de conloiado.
[21] Ce sonnet est à
rapprocher du sonet VI de l’édition. On le trouve dans le ms. 8793 (f. 52 v)
avec une bonne leçon au vers 10: Que aos
Heroes…
[22] Ce sonnet est suivi
d’une décima, dernière pièce du
manuscript mais aussi dernière composition de l’édition de 1852.
[23] «Deo em ladrâo». Dans le manuscrit, le sonner suivant
– anoyme – represente sans doute une réponse:
Grande Duque s’algum
Autor perito
qual Voltaire, Boileau, Garçâo, Monteiro
ou outro cujo nome o mundo inteiro
respeitasse por homem erudito.
S’outro qualquer lesse o que anda escrito
do grande Nuno, de Joâo primeiro,
vos censurasse a vós, e ao mâo cazeiro
que o Tumbo velho imaginou prescripto.
Neste cazo, Senhor, seria graça
perdoar ao censor, e de mil burras
franquear-lhe o metal, que se ri da traça.
Mas o Lobo merece duas surras,
huma por tolo, outra por ter praça
no Livro Mestre dos Santôes caturras.