“Uma variante do
fenómeno da negação é a ideia de que mudar as palavras também
muda os factos. Para os Americanos, a palavra «problema» é tabu.
Presentemente, chama-se «desafio» a qualquer situação que antes
mereceria a primeira designação. Problemas, é coisa que não
existe, pelo menos nos Estados Unidos. A palavra «fascismo» também
é tabu na Europa no que diz respeito aos movimentos políticos
actuais. Há a extrema-direita, o conservadorismo radical, o
populismo, o populismo de direita, mas o fascismo... não! Não, é
impossível, já não temos disso, vivemos em democracia, parem de
ser alarmistas e de ofender as pessoas!
Em 1947, Albert
Camus termina o seu romance A Peste, uma alegoria do fascismo,
comentando que o médico não pôde juntar-se à celebração
posterior ao anúncio oficial de que o reino da peste havia
terminado. «Porque ele sabia o que esta multidão eufórica ignorava
e se pode ler nos livros: o bacilo da peste não morre nem desaparece
nunca, pode ficar dezenas de anos adormecido nos móveis e na roupa,
espera pacientemente nos quartos, nas caves, nas malas, nos lenços e
na papelada. E sabia também que viria talvez o dia em que, para
desgraça e ensinamento dos homens, a peste acordaria os seus ratos e
os mandaria morrer numa cidade feliz.»"
Rob Riemen, “O
Eterno Retorno do Fascismo”, pp. 11-2, Bizâncio, 2012.