06/08/2020

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Troia e as areias brancas, invasoras, palhetadas de mica, avançando a estrangular o corredor d’entrada dos navios, e para além de Troia o mar intermino, com gargalha d’espuma em pelotões sobre os brancos d’areia afogados na agua viva, o mar risonho, o mar supremo, com seus mosqueios de chispas causticas, listras claras zebrando-lhe o azul ventre de carpa, e aquelles fundos d’azul pallido, que ao achegarem-se á rocha vem cambiando até ao verde ultramarino. Abaixo de cada ravina ou convulsão violenta das barreiras, um portinho doce, alcatifado de branco, cheio de conchas e algas, onde romanescos saveiros se balançam: – e um tal silencio, um socego, que as mesmas gaivotas caminham com o acento circumflexo das azas, á procura d’uma exclamação mais alta, p’ra velarem…”
Fialho d’Almeida, “Os Gatos – Vol. V”, pp. 12-13, 4.ª ed., Livraria Clássica Editora de A. M. Teixeira, Lisboa, 1921.


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