S.
Martinho de Anta, Natal de 1940 –
O pragmatismo do camponês é
o que nele de tudo mais me impressiona. A convicção com que se
apega a uma semente, a um costume, a uma crença, ao contrário do
que se diz, nada tem de obsecado. Só dura na medida em que a razão
prática o aconselha.
Fui hoje com o meu Pai à Vila. A página tantas, passámos diante
da capela de Santa-Cabeça, advogada da raiva.
Diz o velho:
– Benzeu-se ali muito pão…
E eu:
– E porque é que os senhores não continuam? Por que motivo,
agora, em vez de broa benta, mandam dar injecções aos danados?
E ele, que foi ao fundo da minha insinuação:
– Enquanto não se descobria coisa melhor, que remédio tinha a
gente senão agarrar-se ao que havia!...
Miguel
Torga, “Diário I”, pág. 179, 1941, Coimbra.
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