06/01/2019

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“Nasci em Fresno, na Califórnia, em 1908, e frequentei as escolas oficiais da cidade até aos dezasseis anos, altura em que passei a trabalhar nas vinhas e pomares da região. Sempre contei entre os meus colegas de turma rapazes e raparigas portugueses – açorianos, como vim mais tarde a saber, pois parece que poucos portugueses da Metrópole emigravam para a América. Ainda hoje estou para saber porquê. Frank Silveira foi um grande amigo meu e excelente jogador de baseball. Elvira Martins era uma morena muito bonita, cheia de vida e com uma linda voz – se bem que na Emerson School apenas cantasse canções populares americanas e não o fado, que tanto aprecio e ouvi pela primeira vez em Lisboa, em 1949, na Adega Machado. Há português no grande escritor americano John dos Passos, e haverá por certo vários outros notáveis escritores e artistas portugueses na América que não conheço. Foi longa a minha aprendizagem de escritor – e o certo é que durante anos receei que se prolongasse para sempre –: dos meus treze anos, quando comprei uma máquina de escrever, expressamente decidido a tornar-me escritor de profissão, até aos vinte e seis, quando publiquei o meu primeiro livro, The Daring Young Man on the Flying Trapeze and Other Short Stories. Agora, aos sessenta e três anos, sinto-me feliz por dizer que continuo escritor de profissão, que acredito no acto de escrever (mais profundamente do que nunca, colocando essa profissão acima de todas as outras – onde mais poderia acaso coloca-la?) e que continuo a ganhar a minha vida com a pena, se me é permitido empregar tão velha e pretensiosa expressão. Escrevi nos géneros mais diversos – histórias, ensaios, novelas, romances, entremezes, peças de teatro, poemas e canções (música e letra) –, mas creio que sou sobretudo conhecido pelas minhas primeiras histórias e pelas peças de teatro, especialmente The Time of Your Life. Não fiz quanto quisera com o que escrevi (esperava, por exemplo, mudar para melhor a própria raça humana, e nem eu nem nenhum outro escritor teve qualquer influência real e aparente na raça humana em geral), mas sinto-me bastante satisfeito por ter sido um trabalhador honesto e dedicado e por ter escrito até à data 44 livros. E se talvez apenas quatro se encontram realmente vivos na hora actual, já não é nada mau, nem me lamento; antes dou graças a Deus. My Name is Aram é um desses quatro livros.
William Saroyan”
William Saroyan, “O Meu Nome é Aram” Editorial Verbo, col.«livros RTP / Biblioteca Básica Verbo /89», Lisboa, 1972.

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