“Nasci em Fresno, na Califórnia, em
1908, e frequentei as escolas oficiais da cidade até aos dezasseis
anos, altura em que passei a trabalhar nas vinhas e pomares da
região. Sempre contei entre os meus colegas de turma rapazes e
raparigas portugueses – açorianos, como vim mais tarde a saber,
pois parece que poucos portugueses da Metrópole emigravam para a
América. Ainda hoje estou para saber porquê. Frank Silveira foi um
grande amigo meu e excelente jogador de baseball.
Elvira Martins era uma morena muito bonita, cheia de vida e com uma
linda voz – se bem que na Emerson School apenas cantasse canções
populares americanas e não o fado, que tanto aprecio e ouvi pela
primeira vez em Lisboa, em 1949, na Adega Machado. Há português no
grande escritor americano John dos Passos, e haverá por certo vários
outros notáveis escritores e artistas portugueses na América que
não conheço. Foi longa a minha aprendizagem de escritor – e o
certo é que durante anos receei que se prolongasse para sempre –:
dos meus treze anos, quando comprei uma máquina de escrever,
expressamente decidido a tornar-me escritor de profissão, até aos
vinte e seis, quando publiquei o meu primeiro livro, The
Daring Young Man on the Flying Trapeze and Other Short Stories.
Agora, aos sessenta e três anos, sinto-me feliz por dizer que
continuo escritor de profissão, que acredito no acto de escrever
(mais profundamente do que nunca, colocando essa profissão acima de
todas as outras – onde mais poderia acaso coloca-la?) e que
continuo a ganhar a minha vida com a pena, se me é permitido
empregar tão velha e pretensiosa expressão. Escrevi nos géneros
mais diversos – histórias, ensaios, novelas, romances, entremezes,
peças de teatro, poemas e canções (música e letra) –, mas creio
que sou sobretudo conhecido pelas minhas primeiras histórias e pelas
peças de teatro, especialmente The
Time of Your Life. Não fiz
quanto quisera com o que escrevi (esperava, por exemplo, mudar para
melhor a própria raça humana, e nem eu nem nenhum outro escritor
teve qualquer influência real e aparente na raça humana em geral),
mas sinto-me bastante satisfeito por ter sido um trabalhador honesto
e dedicado e por ter escrito até à data 44 livros. E se talvez
apenas quatro se encontram realmente vivos na hora actual, já não é
nada mau, nem me lamento; antes dou graças a Deus. My
Name is Aram é um desses
quatro livros.
William
Saroyan”
William
Saroyan, “O Meu
Nome é Aram”
Editorial Verbo,
col.«livros RTP / Biblioteca Básica Verbo /89», Lisboa, 1972.
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