21/12/2018

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“E os comunistas ciaram uma língua especial a que as pessoas chamaram de pau e que se devia falar na nova sociedade até que se começasse a comunicar pela força da ideia revolucionária. Os linguistas diziam que a língua de pau servia o fim de curto-circuitar a comunicação na esfera pública e fora dela e assim apagar da consciência humana as estruturas linguísticas cognitivas. A língua de pau caracterizava-se por nela as palavras entrarem num complicado sistema de conotações que remetiam para os mecanismos de poder da sociedade. Desta forma as palavras iam perdendo o seu sentido original que era substituído por um significado que era tanto mais lato quanto mais firmemente o orador estava ancorado na hierarquia política. E quando um comunista encontrava outro comunista dizia por exemplo COMO É QUE AVANÇAM AS COLHEITAS NO VOSSO CONSELHO? E o outro dizia CONVOCÁMOS OS AGRICULTORES PARA PARTICIPAREM NO CUMPRIMENTO DO PLANO DESTE ANO ou OCUPÁMO-NOS ENERGETICAMENTE DAS TAREFAS FINAIS ou OS CAMARADAS APRESENTARAM PROPOSTAS DE MELHORAMENTO. Inicialmente essa língua foi utilizada sobretudo para falar do trabalho e das decisões políticas do Estado mas com o passar do tempo as pessoas aprenderam a falar nela de tudo do tempo das férias de programas televisivos ou do facto de a mulher se ter posto a beber e não querer ir às reuniões da associação de pais.”

Patrik Ouředník, “Europeana – uma breve história do século XX”, pp. 106-7, Antígona Editores Refractários, Lisboa, 2017.

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