“Os
sexólogos diziam que a boneca Barbie era o primeiro instrumento para
a construção de uma identidade feminina em rapariguinhas de tenra
idade e que o êxito da boneca comprovava que existe uma sexualidade
infantil. A sexualidade infantil deu muito que falar no século XX
quando se chegou à conclusão que as rapariguinhas de tenra idade
gostariam era de ter um filho do papá e que esse filho era no fundo
um sucedâneo do pénis porque as rapariguinhas também gostariam de
ter um pénis e que a boneca era como um filho do papá e um pénis
em simultâneo. Durante muito tempo as bonecas eram unicamente
fabricadas como rapariguinhas mas depois também começaram a ser
fabricados bonecos rapazinhos e as bonecas rapariguinhas tinham entre
as pernas uma fenda e os bonecos rapazinhos um pirilau. E nos anos
setenta também começaram a fabricar-se bonecas negras ou castanhas
embora a maior parte dos casos quem as comprava fossem pais brancos
que assim queriam dar a entender que não eram racistas. O racismo
era uma teoria do século XIX que dizia que as raças humanas tinham
as suas especificidades inalteráveis e se encontravam em diversos
graus de desenvolvimento e que os mais desenvolvidos eram os brancos
que tinham um sentido inato para a organização da sociedade e o
pensamento abstracto e convívio popular e um racista era uma pessoa
que temia que a miscigenação das raças iria pôr em causa as
especificidades brancas e minar o potencial genético que permitia
aos brancos marcharem na vanguarda da humanidade. As pessoas que não
gostavam dos Judeus não eram racista mas anti-semitas porque bem
vistas as coisas os Judeus não eram considerados inferiores como por
exemplo os Indianos ou os Ciganos etc. A palavra anti-semita apareceu
no final do século XIX e designava uma pessoa que não desejava que
os Judeus dominassem o mundo e instigava ao seus concidadãos à
resistẽncia. O racismo tornou-se um importante problema social após
a Segunda Guerra Mundial porque nos países europeus ricos se
estabeleceram grandes minorias étnicas que a sociedade tinha de
absorver. Existiam dois modelos de absorção de minorias étnicas a
integração e a assimilação e a integração era posta em prática
por aqueles países que acreditavam que na sociedade civil podem
coexistir diversos modelos culturais e que mais vale não misturar um
com o outro e preservar as especificidades de cada um e a assimilação
era promovida nos países que acreditavam no universalismo e julgavam
existir um interesse superior da sociedade a que se encontram
subordinadas as especificidades étnicas e culturais. Durante muito
tempo o modelo da assimilação era mais bem-sucedido que o da
integração porque nos países que o promoviam não havia revoltas
raciais como em Inglaterra ou na América mas no final do século
quando se começou a falar em globalismo e mundialismo o
universalismo passou de moda e cada um queria ter a sua própria
identidade e ter orgulho na sua raça não no sentido de raça mas de
civilização e viver de acordo com as tradições e voltar às
raízes etc.”
Patrik
Ouředník,
“Europeana – uma breve história do século XX”, pp. 56-8,
Antígona Editores Refractários, Lisboa, 2017.
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