“O
estudante é um ser partilhado entre um estatuto presente e um
estatuto futuro claramente distintos, cuja fronteira será
mecanicamente transposta. A sua consciência esquizofrénica
permite-lhe isolar-se numa «sociedade de iniciação»,
desconhecendo o seu futuro e encantando-se com a unidade mística que
lhe oferece um presente ao abrigo da história. (…) Embora a sua
tardia crise juvenil o oponha um tanto à família, aceita facilmente
ser tratado como criança nas diversas instituições que regem a sua
vida quotidiana.”
AAVV,
“Da Miséria no Meio
Estudantil”, pág.
27,
Antígona Editores Refractários, Lisboa, Maio 2018.
“O
estudante (…), na sua qualidade de ser ideológico, chega tarde
demais a tudo. Todos os valores
e ilusões que constituem o orgulho do seu mundo fechado estão já
condenados como ilusões insustentáveis, desde há muito
ridicularizadas pela história.
Recolhendo
um pouco dos sobejos de prestígio da Universidade, o estudante ainda
se sente satisfeito por ser estudante. Tarde demais! O especializado
ensino mecânico que recebe está tão profundamente degradado (em
relação ao antigo nível da cultura geral burguesa1)
quanto o seu próprio nível
intelectual no momento em que a tal ensino acede, e isto pelo simples
facto de a realidade que domina o conjunto destas coisas – o
sistema económico- reclamar uma fabricação maciça de estudantes
incultos e incapazes de pensar. Que a Universidade se tenha tornado
uma organização – institucional – da ignorância, que a própria
«alta cultura» se dissolva ao ritmo da produção em série dos
professores, que todos
estes professores sejam uns cretinos, de tal modo que a maior parte
de entre eles provocaria a algazarra de qualquer público de liceu
(...)”
AAVV,
“Da Miséria no Meio
Estudantil”, pp.29-30, Antígona Editores Refractários, Lisboa,
Maio 2018.
1Não
nos referimos à cultura da Escola Normal Superior nem à dos
Sorboniqueiros, mas à dos Enciclopedistas ou de Hegel.
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