Lorvão,
20 de Maio de 1944
– Como
tudo se desatualiza, perde o sentido, se torna anacrónico e
monstruoso! Na Idade Média, e mesmo depois, casarões destes, grades
destas, ermos destes, eram moradas, atributos e lugares de salvação.
A tísica e a brancura de uma monja significavam estigmas de
santidade e de triunfo, e a história, a filosofia e a moral só
tinham que partir daí para explicar, justificar e louvar. Hoje, cada
ser humano enclausurado nestas celas gradeadas, a pagar renda ao
Estado, é um condenado à morte por uma sociedade reles, que não
pode encontrar em nenhuma consciência ou tribunal um sentimento de
defesa.
Miguel
Torga, “Diário
III”,
pág.
51,
1954,
Coimbra.
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