“Claro
que vai sendo difícil saber-se o que é uma literatura (uma arte)
revolucionária, qual o seu grau de incidência num contexto social
marcado pelo predomínio cultural e económico das classes burguesas.
É nestas, já se sabe, que se recrutam os consumidores “cultos”,
ávidos de “surpresas”, abertos às “inovações”. Aquela
burguesia insatisfeita culturalmente mas muito instalada nas suas
prerrogativas económicas devora tudo, inclusivamente o que a
“contesta”. Este o drama das estéticas ditas de “vanguarda”,
cedo transformadas – e conformadas – em novos academismos. Elas,
por si só, não constroem um novo sistema cultural: muito pelo
contrário, dão injecções de vitalidade ao sistema estabelecido.
Julgando destruí-lo, prolongam-no. Querendo-se bombas, verificam-se
(quando dão por isso) bichas de rabiar – atrevidas, barulhentas,
divertidas, inofensivas.”
Vitor
Silva Tavares, “Notas para um Prefácio (a Haver) com Pedido de
Posfácio”, pág. 14, ed. Viúva Frenesi, Lisboa, 2017.
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