FACTOTUM:
Há o Teatro D. Maria, que se não apresenta cem quadros dá-nos em
cada melodrama cem mortes, duzentas choradeiras e quatrocentos
reconhecimentos!
COMETA:
Belo, belo! Venha ao Teatro D. Maria! Eu sou doido por emoções
fortes! (Música)
1.º
NOTICIARISTA: Silêncio, aí o tem justamente num lance bem patético,
numa cena de reconhecimento!
DAMA
(entra em cena espavorida, com os cabelos caídos): É
possível? Meu pai?... Ele?... Ele?... E o meu coração não me
dizia nada… (Indo lançar-se-lhe nos braços) Ah!... Meu P a
a a a a i!
PAI
(correndo da direita com os braços abertos): Minha F i i i i
lha!
AVÓ
(idem da direita): Minha neta!
NETA
(idem da esquerda): Minha Avó!
DAMA
(idem da direita): Meu esposo!
ESPOSO
(idem da esquerda): Minha Esposa!
(Saindo
ao mesmo tempo de diversas partes, caindo todos nos braços uns dos
outros e soluçando sobre o ponto, este abre um guarda-chuva)
TODOS
(dando muitas palmas): Bravo! Bravo! Bravo!
COMETA
(limpando os olhos): É bonito, mas sensibiliza de mais!
PAI:
É tarde meus queridos filhos! Agora que afinal sou venturoso não
quer a desventura que eu sobreviva à minha ventura! (Cambaleia)
TODOS:
Bravo! Bravo!
COMETA
(ao mesmo tempo): Bravo! Que pureza de linguagem!
PAI:
Sinto-me desfalecer… um veneno fatal percorre as minhas veias…
Adeus, eu morro!
TODOS:
Envenenado?! Ah!
PAI
(ansiando): Sim, meus filhos, mas vou morrer lá p’ra dentro
para não entulhar a cena! (Sai aos pulinhos)
TODOS:
(os de D. Maria II): Oh! Não, não; não lhe devemos
sobreviver!
(Tiram
frascos d’água-de-colónia e garrafinhas caricatas, que põem à
boca, bebem e vão para dentro tragicamente, figurando que se
envenenaram.)
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