“Por
vezes passo por pequenas lojas, na rue Seine por exemplo. Antiquários
ou pequenos alfarrabistas ou vendedores de gravuras com montras
pejadas. Nunca ninguém lá entra, pelo visto não fazem negócio.
Mas, se olharmos lá para dentro, vemo-los sentados, sentados a ler,
descuidados; não cuidam do dia de amanhã, não se inquietam por
qualquer êxito, têm um cão que está sentado diante deles de bom
humor, ou um gato que faz o silêncio ainda maior ao roçar-se ao
longo das filas dos livros como se limpasse o pó dos nomes das
lombadas.
Ah,
se isso fosse bastante: desejaria por vezes comprar uma montra cheia
e sentar-me atrás dela com um cão por vinte anos.”
Rainer
Maria Rilke, “Os Cadernos de Malte Laurids Brigge”, pág, 43
Ed. Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, 1954. Trad. Paulo
Quintela.
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