MANHANS BRUMOSAS
Aquella, cujo amor
me causa alguma pena,
Põe
o chapeo ao lado, abre o cabello á banda,
E
com forte voz cantada com que ordena,
Lembra-me,
de manhan, quando nas praias anda,
Por
entre o campo e o mar, bucolica, morena,
Uma
pastora audaz da religiosa Irlanda.
Que
linguas fala? A ouvir-lhe as inflexões
inglezas,
– Na
nevoa azul, a caça, as pescas, os rebanhos! –
Sigo-lhe
os altos pés por estas asperezas;
E
o meu desejo nada em epoca de banhos,
E,
ave de arribação, elle enche de surprezas
Seus
olhos de perdiz, redondos e castanhos.
As
irlandezas teem soberbos
desmazelos!
Ella
descobre assim, com lentidões
ufanas,
Alta,
escorrida, abstracta, os grossos tornozelos;
E
como aquellas são maritimas, serranas,
Suggere-me
o naufragio, as musicas, os gelos
E
as redes, a manteiga, os queijos, as choupanas.
Parece
um «rural
boy»!
Sem brincos nas orelhas,
Traz
um vestido claro a comprimir-lhe os flancos,
Botões
a tiracollo e applicações
vermelhas;
E
á roda, n'um paiz de prados e barrancos,
Se
as minhas maguas vão, mansissimas ovelhas,
Correm
os seus desdens, como vitellos brancos.
E
aquella, cujo amor me causa alguma pena,
Põe
o chapeo ao lado, abre o cabello á banda,
E
com a forte voz cantada com
que ordena,
Lembra-me,
de manhan, quando nas praias anda,
Por
entre o campo e o mar, catholica, morena,
Uma
pastora audaz da religiosa Irlanda.
Cesário
Verde, pág. 50.
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