O JUIZ
O ódio que
os poetas inspiram é tão grande que os amarram a uma espécie de rodas quadradas
e os lançam do cimo de ladeiras que terminam em covas cheias de animais
ferozes. Uma alegre multidão de feira assiste a este suplício. Nada a diverte
mais do que os sobressaltos das rodas quadradas até à cova onde os animais
esperam. Às vezes os animais ferozes deitam-se e lambem, os pés das vítimas. A
multidão enraivecida insulta, então, os animais e chama-lhes cobardes. Já
assisti a este suplício. Por sorte não me acusaram de ser poeta. Mas reparei
que um dos juízes me observava com aversão, pelo canto do olho.
Jean Cocteau, “Tanta Coisa Por Dizer”, p. 24, Língua Morta,
Lisboa, 2012.
Trad. de Inês Dias
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