23/10/2012

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RITOS 

(Versão de um poema de Nicanor Parra) 


De cada vez que regresso
Ao meu país
                          depois de uma longa viagem
O primeiro que faço
É perguntar pelos que morreram:
Qualquer homem é um herói
Pelo simples facto de morrer
E os heróis são os nossos mestres.

E em segundo lugar
                                       pelos feridos.
Só depois
                        não antes de cumprir
Este pequeno rito funerário
Me considero com direito à vida:
Fecho os olhos para ver melhor
E canto com rancor
Uma canção de começos de século.


José Miguel Silva in ‘Ulisses Já Não Mora Aqui’, p.68, &Etc, 2002.



NÃO É TARDE


O amor é como o fogo, não se propaga
onde o ar escasseia. Mas não te preocupes,
eu fecho mais a porta.

Gestos e paveias, acendalhas, o isqueiro
funciona! Poderoso combustível
é o corpo. Acende deste lado.

Ainda não é tarde, foi agora anunciado
pela rádio, são dezoito e vinte cinco.
Respira-nos, repara, a ilusão

de que a vida não se esgota, como os saldos
de verão. E a morte, à medida que te despes,
vai perdendo o nosso número de telefone.


José Miguel Silva in ‘Ulisses Já Não Mora Aqui’, p.71, &Etc, 2002.

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