Pormenor das "Meninas" de Diego Velázquez (1599-1660) |
EL PRADO
Os quadros são coisas completas
na engrenagem das salas
e nós vamos no rasto que eles deixam.
Comemos uma salada reles no buffet do Prado
e os “novos artistas de Espanha”
fumam-nos o tabaco todo com os cotovelos
fincados no mapa.
A beleza tem peso e consequência, as salas
parecem tão cheias que não sobra no espaço
um lugar para nós.
Velhas como as árvores,
as Meninas.
Rui Pires Cabral in «A Super-Realidade», ed. Língua Morta, p.27, 2011.
E porque também tem ‘menina’, ‘árvores’ e ‘prado’ segue o seguinte soneto de Rilke:
II
E era menina quase, e eis se ergueu
desta ventura una de canção e lira
e clara brilhou através do seu véu
a Primavera e fez no meu ouvido a cama.
E em mim dormiu. E tudo foi seu sono.
As árvores, que de sempre admirei, esta
lonjura de sentir, o prado já sentido
e todo o espanto que me veio ferir.
Ela dormiu o mundo. Deus cantor, como é que
tu a completaste, que ela não te pedisse
pra acordar primeiro? Vê – surgiu e adormeceu.
E a sua morte, aonde? Oh, inventarás inda
este motivo, antes que o teu canto se consuma? –
Pra onde é que ela cai, de mim caída?... Menina quase…
Rainer Maria Rilke, in «Sonetos a Orfeu», ed. Inova, versão de Paulo Quintela, p.90.
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