A Barba
A barba é o meu gato. Afago-a
nesse jeito de quem passa os dedos
pelo dorso de um bichano. Eu sei
que estou a tocar num tigre: a barba
encrespa-se, revolve-se mesmo.
Ondas, campos de milho, searas,
também conhecem afago igual.
Mas este gato rebelde, a minha barba
apenas, é agora tudo a que me prendo.
Mestres já me dizem do excesso
de assim me virar para dentro.
Não! É para fora! Mora a barba
noutras eras, noutro espaço. É ela
que me afaga a mim: a última ternura.
Eduardo Guerra Carneiro in Profissão de Fé, p.28, Quetzal Editores, Lx, 1990
Sem comentários:
Enviar um comentário