13/02/2018

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Coimbra, 26 de Maio de 1942 – Mais um livro. Mais uma tonelada de energia perdida, que, gasta na minha terra a saibrar monte, dava pelo menos um milheiro de bacelo planteado. Mas pobre de quem tem uma chaga! Pobre de quem tem a mísera condenação de ser poeta, e de o ser aqui…”
Miguel Torga, “Diário II” 3ª ed. Revista, pág. 35, Coimbra Editora, 1960.

Coimbra, 27 de Maio de 1942 – Lá foi o livro para as quatro ou cinco pessoas a quem ainda, por amizade melancólica, ofereço as minhas coisas, sem a esperança duma linha sequer a dizer – cá recebi. Se eu lhes enviasse salpicões ou perdizes, era um caso – vinha uma carta a correr; mas mando versos… De resto, tanto me faz, como me fez. Com quem eu e todos os que escrevem temos de as jogar não é com a inveja ou com a indiferença dos do nosso tempo. É com uns implacáveis mas impessoais senhores do futuro, que dizem sim ou não sobre uma obra, tanto lhes dando que o autor tivesse em vida lâmpadas acesas em Meca como círios apagados em Jerusalém.”
Miguel Torga, “Diário II” 3ª ed. Revista, pp. 35-36, Coimbra Editora, 1960.

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