27/10/2015

"AGORA?..." Bico calado!







O Presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, atribuiu a mais alta distinção da cidade "medalha" e teceu vários elogios ao empresário congolês:
“O Porto agradece a quem lhe faz bem... A atribuição da medalha é a expressão simbólica do reconhecimento de uma cidade que sabe agradecer aos que a elevam no plano nacional e internacional e aos que lhe confiam os seus mais preciosos bens”, continuou, referindo ainda: “A Fundação Sindika Dokolo, e em particular o seu presidente, não escolhem qualquer cidade nem qualquer galeria para expor ao mundo obras tão preciosas e de valor artístico tão transcendente como as que agora podemos apreciar. Escolheram o Porto. E fizeram-no certamente por reconhecerem na cidade um palco do mundo.”  finalizou Rui Moreira. NOTA: fotos tiradas da web

 De Portugal nada se espera (Editorial do Jornal de Angola)

José Ribeiro |
25 de Outubro, 2015
http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/a_palavra_do_director/de_portugal_nada_se_espera
 


A ingerência desabrida que Portugal faz nos assuntos da soberania de Angola está a ultrapassar todos os limites.
A cruzada anti-angolana já não pode ser ignorada. O nível que atinge a ingerência portuguesa nos assuntos estritamente angolanos só encontra paralelo em duas ocasiões: quando Angola proclamou a sua independência em 1975 e quando se aproximava a derrota da UNITA de Jonas Savimbi, antes de 4 Abril de 2002. Nesses dois momentos, a raiva cravada e sempre latente na sociedade portuguesa, pronta a declarar-se à mínima oportunidade, manifestou-se de forma prejudicial para as relações entre os dois países.
Os ataques diários e injustos desferidos a partir de Portugal surgem agora revestidos da fina película da luta pelos direitos humanos. Mas antes lançaram os processos judiciais contra os dirigentes angolanos, estratégia que fracassou redondamente.
Portugal atravessa uma profunda crise. Todos os projectos nacionais, dos europeístas aos atlantistas e africanistas, estão bloqueados. Na prática, a economia portuguesa já não existe e a crise social profunda tende a agravar-se com a falta de patriotismo e de entendimento entre os políticos. A única saída que resta é procurar culpados e para isso, como há mais de 60 anos, só resta uma porta: Angola, o país com mais ligações “tradicionais” e “afectivas” com Portugal.
É isso que explica a operação de guerra feroz, lenta mas sistemática, que vem diariamente de Portugal contra o Estado angolano e que se aproveita agora do caso judicial que envolve o angolano Luaty Beirão, que nunca foi músico nem activista político, como antes se aproveitou de Rafael Marques, que nunca foi jornalista em Angola e é um avençado de poderosos círculos financeiros internacionais. A central mediática que está na primeira linha dessa operação em Portugal pertence a Francisco Pinto Balsemão, militante com o cartão n.º1 do Partido Social Democrata (PSD) e articula-se entre os canais SIC, o semanário “Expresso” e toda a rede de publicações do Grupo Impresa. Estamos apenas perante um episódio produzido pelos profissionais que garantiram a melhor cobertura à guerra do criminoso Jonas Savimbi e do regime de apartheid e hoje se apresentam travestidos de democratas e defensores dos direitos humanos.
Esta história vem de muito longe. Em 1975, os portugueses que se opunham ao fim da colonização deram as mãos aos invasores e mercenários vindos do Norte, do Sul e do Leste, para impedirem a proclamação da independência de Angola. As relações com Portugal evoluíram nessa ocasião até um ponto de ruptura e apenas chegaram à normalização com o encontro do Sal entre os Presidentes Agostinho Neto e Ramalho Eanes.
Até 2002, quando estava iminente a derrota de Jonas Savimbi, novamente os portugueses se levantaram para tentarem travar a tão desejada paz e reconciliação em Angola. Mas, ao contrário do que sucedeu por altura da independência, entre os sectores da sociedade portuguesa que vieram em socorro de Savimbi no final da sua aventura estavam alguns daqueles políticos de “esquerda”, ligados ao Bloco de Esquerda, que hoje voltam a envenenar as relações entre os dois países. Luís Fazenda, Francisco Louçã e alguns iniciados da política contra Angola, Daniel Oliveira, Catarina Martins, Mariana Mortágua, que hoje aparecem ao lado de gente que foi aliada de Jonas Savimbi, como Agualusa e Rafael Marques, que naquela altura ombreavam nas manifestações à frente da Embaixada de Angola com os rebeldes Morgado, Wambembe, Oliveira, Adalberto, Catchiungo e outros. As suas acções não impediram que o povo angolano conquistasse a paz, o maior feito a favor dos direitos humanos que alguém pode realizar. Essa mesma paz que permite a Francisco Louçã, autor da maior falta de respeito que se pode fazer a um Chefe de Estado, ao abandonar o Parlamento português à entrada do nosso Presidente, vem hoje ganhar dinheiro em Angola.
A partir da paz de 2002, o que se esperava era que os Estados e os cidadãos dos dois países vivessem num quadro de convivência democrática e cooperação. Mas o rumo de cada país, o ciclo virtuoso em Angola, a crise acentuada em Portugal e o ambiente de intriga e conflitualidade nas relações não trazem nada de bom. Por ignorância e despeito das elites portuguesas, concorrência entre elas próprias e inveja de poderes externos, a parceria estratégica que se começou a traçar com Portugal e que era uma boa solução para o futuro de Portugal, foi por água abaixo.
Esperar pela compreensão dos portugueses para se trilhar um caminho comum de cooperação mutuamente vantajosa é pura perda de tempo e prova que foi correcta a decisão tomada pelo Governo de Angola de suspender a construção dessa parceria estratégica com Portugal. Hoje nada mais resta a fazer senão trabalhar com o poder de Bruxelas, que é quem manda de facto em Lisboa. São os próprios portugueses que o dizem. Para Portugal, está apenas reservado o papel de caixa de ressonância dos diferentes interesses que se digladiam. Essa é porventura a razão por que o Governo português não condena as actuais acções de desestabilização de Angola e pactua com a ingerência. Está de braços amarrados.
A visita que o embaixador português realizou na semana passada a um cidadão que aguarda julgamento abre um precedente grave. Sobre esse cidadão recaem acusações gravíssimas da PGR de envolvimento em actos de perturbação de ordem pública em Angola, no quadro de uma acção mais vasta de transformar o país numa nova Líbia em África. O diplomata português acaba de legitimar toda a ingerência personificada nas manifestações em Portugal. O Governo português, depois de tanto tempo, volta a cair na asneira de se pôr do lado errado.
Angola tem tribunais competentes para julgar processos judiciais. Em Angola ninguém está acima da lei. Durante o regime colonial, o Estado português mandou cortar a cabeça a muitos angolanos suspeitos de “subversão” e “terrorismo” quando lutavam pela liberdade e a dignidade do seu povo. Hoje Angola é um Estado de Direito. Quando se comemoram os 40 anos da independência de Angola, de Portugal continuamos a não poder esperar nada de bom.

17/10/2015

Marcador VST...



Para o último &etc, "Anonimato" de Diogo Vaz Pinto, um marcador de páginas com um poema de Vitor Silva Tavares.

11/10/2015

para lelos... Can you see it? or " faltou-me um golpe de asa" ...




William Morris (1834-1896)
Raphael Bordallo Pinheiro (1846-1905)



Isabella, 1848 de
John Everett Millais... link
Pre-Raphaelites
Grupo do Leão, 1885 - Columbano Bordallo Pinheiro

05/10/2015

...


Nesta bandeja
de inox
como pêches Melba
te trago meu Senhor
os meus dois peitos
virgens
acabados de amputar
com empatia
pelo atento oncologista
de serviço
com os dois farás duas
cúpulas
a dos Invalides
e a do Sacré-Coeur
e Santa Ágata sobe
aos céus
mas sem os peitos
que ficam em Paris
a arder


Adília Lopes, “A Continuação do Fim do Mundo”, pág. 42, &etc, 1995.




O IMPÉRIO DAS LÃS


Maria Andrade come
os túbaros
com a bruta brusquidão
do patriarcal carneiro
signo seu à nascença
Túlio-Teseu descobre
que o Minotauro
é uma camisola grenat
com duas amarelas
agulhas-farpas de tricot
enterradas
Maria Andrade-Ariadne
deu-lhe o cordão umbilical
que o devolveu
à sala vazia
onde está a camisola
é bom dentro e fora
da mãe
mais fora que dentro
e dentro é óptimo
é Natal em Nárnia
o bode expiatório
ressuscitou morreu e nasceu
Túlio gosta de touradas
à espanhola
à Hemingway
Maria Andrade vai dormir
para o sofá
ao saber disto
lavada em lágrimas
a rezar pelos touros-mártires
à Malcolm Lowry
(malhas que a Benetton tece!)


Adília Lopes, “A Continuação do Fim do Mundo”, pp. 58-9, &etc, 1995.


O que é que eu te pareci
da primeira vez
que me viste
no comboio?
tinha perguntado
Maria Andrade
a Túlio
a vespa de Carroll
e a Hermínia Silva
e eu?
o chinês da Pearl Buck
que estudou
medicina ocidental
mas que casa
com a chinesa tradicional
que vê pela primeira vez
no dia do casamento
a quem desata os pés atados
dentro de uma bacia
com água morna
para não doer tanto
antes de fazerem amor
pela primeira vez
meses depois
do dia do casamento
e o William Hurt
que faz de cirurgião
a dizer à operada
que tem receio
de mostrar a costura
com agrafos
ao marido
que ela parece
uma beldade
saída das páginas da Playboy
com os agrafos e tudo


Adília Lopes, “A Continuação do Fim do Mundo”, pp. 70-1, &etc, 1995.




Maria Andrade vai
à casa de banho
do aeroporto de Kinshasa
para rezar
precisa de agradecer
o encontro fortuito
com Túlio
como nas igrejas
em que entra
pela primeira vez
(é a primeira vez
que entra na casa de banho
do aeroporto de Kinshasa)
pede três graças
que mantém secretas
o Pai bate na testa
o Filho entre as maminhas
o Espírito na maminha esquerda
e o Santo na direita
às vezes o Espírito Santo
fica todo na maminha esquerda
outras vezes o Santo
fica no ar entre as maminhas
Maria Andrade
de joelhos
de mãos postas
reza
mas as maminhas interferem
com os antebraços
Maria Andrade
nunca viu nada escrito
sobre este assunto


Adília Lopes, “A Continuação do Fim do Mundo”, pp. 80-1, &etc, 1995.

«Homenagem ao Quadrado»...






Homenagem ao Quadrado / Perfume Verde
Josef Albers, 1963

 Fibra s/madeira, 120x120 cm
Ludwig Museum, Colónia.