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O Presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, atribuiu a mais alta distinção da cidade "medalha" e teceu vários elogios ao empresário congolês:
“O Porto agradece a quem lhe faz bem... A
atribuição da medalha é a expressão simbólica do reconhecimento de uma
cidade que sabe agradecer aos que a elevam no plano nacional e
internacional e aos que lhe confiam os seus mais preciosos bens”, continuou, referindo ainda: “A
Fundação Sindika Dokolo, e em particular o seu presidente, não escolhem
qualquer cidade nem qualquer galeria para expor ao mundo obras tão
preciosas e de valor artístico tão transcendente como as que agora
podemos apreciar. Escolheram o Porto. E fizeram-no certamente por
reconhecerem na cidade um palco do mundo.” finalizou Rui Moreira. NOTA: fotos tiradas da web
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De Portugal nada se espera (Editorial do Jornal de Angola)
José Ribeiro |
25 de Outubro, 2015
http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/a_palavra_do_director/de_portugal_nada_se_espera
A ingerência desabrida que Portugal faz nos assuntos da soberania de Angola está a ultrapassar todos os limites.
A cruzada anti-angolana já não pode ser ignorada. O
nível que atinge a ingerência portuguesa nos assuntos estritamente
angolanos só encontra paralelo em duas ocasiões: quando Angola proclamou
a sua independência em 1975 e quando se aproximava a derrota da UNITA
de Jonas Savimbi, antes de 4 Abril de 2002. Nesses dois momentos, a
raiva cravada e sempre latente na sociedade portuguesa, pronta a
declarar-se à mínima oportunidade, manifestou-se de forma prejudicial
para as relações entre os dois países.
Os ataques diários e injustos
desferidos a partir de Portugal surgem agora revestidos da fina película
da luta pelos direitos humanos. Mas antes lançaram os processos
judiciais contra os dirigentes angolanos, estratégia que fracassou
redondamente.
Portugal atravessa uma profunda crise. Todos os
projectos nacionais, dos europeístas aos atlantistas e africanistas,
estão bloqueados. Na prática, a economia portuguesa já não existe e a
crise social profunda tende a agravar-se com a falta de patriotismo e de
entendimento entre os políticos. A única saída que resta é procurar
culpados e para isso, como há mais de 60 anos, só resta uma porta:
Angola, o país com mais ligações “tradicionais” e “afectivas” com
Portugal.
É isso que explica a operação de guerra feroz, lenta mas
sistemática, que vem diariamente de Portugal contra o Estado angolano e
que se aproveita agora do caso judicial que envolve o angolano Luaty
Beirão, que nunca foi músico nem activista político, como antes se
aproveitou de Rafael Marques, que nunca foi jornalista em Angola e é um
avençado de poderosos círculos financeiros internacionais. A central
mediática que está na primeira linha dessa operação em Portugal pertence
a Francisco Pinto Balsemão, militante com o cartão n.º1 do Partido
Social Democrata (PSD) e articula-se entre os canais SIC, o semanário
“Expresso” e toda a rede de publicações do Grupo Impresa. Estamos apenas
perante um episódio produzido pelos profissionais que garantiram a
melhor cobertura à guerra do criminoso Jonas Savimbi e do regime de
apartheid e hoje se apresentam travestidos de democratas e defensores
dos direitos humanos.
Esta história vem de muito longe. Em 1975, os
portugueses que se opunham ao fim da colonização deram as mãos aos
invasores e mercenários vindos do Norte, do Sul e do Leste, para
impedirem a proclamação da independência de Angola. As relações com
Portugal evoluíram nessa ocasião até um ponto de ruptura e apenas
chegaram à normalização com o encontro do Sal entre os Presidentes
Agostinho Neto e Ramalho Eanes.
Até 2002, quando estava iminente a
derrota de Jonas Savimbi, novamente os portugueses se levantaram para
tentarem travar a tão desejada paz e reconciliação em Angola. Mas, ao
contrário do que sucedeu por altura da independência, entre os sectores
da sociedade portuguesa que vieram em socorro de Savimbi no final da sua
aventura estavam alguns daqueles políticos de “esquerda”, ligados ao
Bloco de Esquerda, que hoje voltam a envenenar as relações entre os dois
países. Luís Fazenda, Francisco Louçã e alguns iniciados da política
contra Angola, Daniel Oliveira, Catarina Martins, Mariana Mortágua, que
hoje aparecem ao lado de gente que foi aliada de Jonas Savimbi, como
Agualusa e Rafael Marques, que naquela altura ombreavam nas
manifestações à frente da Embaixada de Angola com os rebeldes Morgado,
Wambembe, Oliveira, Adalberto, Catchiungo e outros. As suas acções não
impediram que o povo angolano conquistasse a paz, o maior feito a favor
dos direitos humanos que alguém pode realizar. Essa mesma paz que
permite a Francisco Louçã, autor da maior falta de respeito que se pode
fazer a um Chefe de Estado, ao abandonar o Parlamento português à
entrada do nosso Presidente, vem hoje ganhar dinheiro em Angola.
A
partir da paz de 2002, o que se esperava era que os Estados e os
cidadãos dos dois países vivessem num quadro de convivência democrática e
cooperação. Mas o rumo de cada país, o ciclo virtuoso em Angola, a
crise acentuada em Portugal e o ambiente de intriga e conflitualidade
nas relações não trazem nada de bom. Por ignorância e despeito das
elites portuguesas, concorrência entre elas próprias e inveja de poderes
externos, a parceria estratégica que se começou a traçar com Portugal e
que era uma boa solução para o futuro de Portugal, foi por água abaixo.
Esperar
pela compreensão dos portugueses para se trilhar um caminho comum de
cooperação mutuamente vantajosa é pura perda de tempo e prova que foi
correcta a decisão tomada pelo Governo de Angola de suspender a
construção dessa parceria estratégica com Portugal. Hoje nada mais resta
a fazer senão trabalhar com o poder de Bruxelas, que é quem manda de
facto em Lisboa. São os próprios portugueses que o dizem. Para Portugal,
está apenas reservado o papel de caixa de ressonância dos diferentes
interesses que se digladiam. Essa é porventura a razão por que o Governo
português não condena as actuais acções de desestabilização de Angola e
pactua com a ingerência. Está de braços amarrados.
A visita que o
embaixador português realizou na semana passada a um cidadão que aguarda
julgamento abre um precedente grave. Sobre esse cidadão recaem
acusações gravíssimas da PGR de envolvimento em actos de perturbação de
ordem pública em Angola, no quadro de uma acção mais vasta de
transformar o país numa nova Líbia em África. O diplomata português
acaba de legitimar toda a ingerência personificada nas manifestações em
Portugal. O Governo português, depois de tanto tempo, volta a cair na
asneira de se pôr do lado errado.
Angola tem tribunais competentes
para julgar processos judiciais. Em Angola ninguém está acima da lei.
Durante o regime colonial, o Estado português mandou cortar a cabeça a
muitos angolanos suspeitos de “subversão” e “terrorismo” quando lutavam
pela liberdade e a dignidade do seu povo. Hoje Angola é um Estado de
Direito. Quando se comemoram os 40 anos da independência de Angola, de
Portugal continuamos a não poder esperar nada de bom.