07/06/2018
Voluntariado!...
Uff! É uma canseira trabalhar para a UE… Este meu estágio não remunerado ao serviço do Novo Regulamento de Protecção de Dados é um belo exemplo…
28/05/2018
...
“Coimbra,
28 de Maio de 1942 – O dia foi um boi que morreu aqui ao pé,
num lameiro. Andava a lavrar, e de repente caiu redondo no chão.
Tiraram-lhe a pele e enterraram-no ali mesmo. A charrua a brilhar em
cima da sepultura foi o seu ramo de flores.”
Miguel
Torga, “Diário
II” 3ª ed. Revista, pág. 36, Coimbra Editora, 1960.
27/05/2018
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Porto,
27 de Maio de 1944 –
O romance é a vida de
relação. Onde não há convívio não pode haver enredos, nem
lances. Ora como em Portugal cada um tem a sua toca e a sua
pateguice, não há romance. O pobre do Camilo bem quis. Mas era
sempre a mesma gente a fazer as mesmas cenas. O que matou aquele
grande génio foi nunca ninguém o convidar para tomar chá.
Miguel Torga, “Diário
III”, pág. 58, 1954, Coimbra.
25/05/2018
...
“Uma
accasião, em Paris, entrei numa barraca de feira onde se exhibia uma
phoca e uma mulher de barbas. A mulher era um homem, de vestido
decotado, a phoca era um cão, coberto com a pelle do animal em
questão, e nadando num pequeno tanque. Uma coisa sem graça. Quando
sahi, o dono da barraca, dizia, apontando-me: «Perguntem a este
senhor se vale ou não a pena, vêr estas maravilhas! Senhores,
senhores, entrae, entrae!» Não posso explicar o motivo, porque me
teria sido desagradável desmentir esse homem. Era sobre sobre esse
facto que elle contava. Succede o mesmo com os desilludidos da lua de
mel: não querem destruir o sonho dos outros.”
Leão
Tolstoi, “A Sonata de Kreutzer”, pág. 47, Guimarães &
C.ª Editores, trad. Maria Benedicta Pinho, s/d.
24/05/2018
23/05/2018
...
“Coimbra,
23 de Maio de 1942 – No meio desta desgraçada guerra, toda
aço, ferro, bombas, e coisas técnicas onde entra tudo menos uma
instintiva e sanguínea vontade de combater, um lampejo de esperança:
a notícia nos jornais de que na Austrália, entre a tropas
americanas, existe um homem, um índio, que ouve o som do aviões
inimigos antes dos aparelhos de escuta!”
Miguel
Torga, “Diário
II” 3ª ed. Revista, pág. 34, Coimbra Editora, 1960.
20/05/2018
...
Lorvão,
20 de Maio de 1944
– Como
tudo se desatualiza, perde o sentido, se torna anacrónico e
monstruoso! Na Idade Média, e mesmo depois, casarões destes, grades
destas, ermos destes, eram moradas, atributos e lugares de salvação.
A tísica e a brancura de uma monja significavam estigmas de
santidade e de triunfo, e a história, a filosofia e a moral só
tinham que partir daí para explicar, justificar e louvar. Hoje, cada
ser humano enclausurado nestas celas gradeadas, a pagar renda ao
Estado, é um condenado à morte por uma sociedade reles, que não
pode encontrar em nenhuma consciência ou tribunal um sentimento de
defesa.
Miguel
Torga, “Diário
III”,
pág.
51,
1954,
Coimbra.
19/05/2018
...
Um debate "Animado" (mas não foi a Porto Lazer), no Palácio da Bolsa em 14_05_2018 que quase não foi noticiado. Numa iniciativa da união de freguesia do centro histórico do Porto. Viu-se a indignação dos cada vez menos moradores 'autóctones' contra os despejos derivados desta especulação imobiliária, ganância, e turistificação selvagem... |
16/05/2018
...
Coimbra,
16 de Maio de 1944
RAÚL
BRANDÃO
Ao
lado das grandes figuras realizadas,
cuja sombra, de tão cerrada, nos arrefece, há uma outra categoria
de artistas, que o são deveras, debaixo da copa de quem a gente
refresca e medita. Insisto em que se não trata de artistas menores,
ou coisa assim. Quando se diz artista, não há escala. Tão grande
é, especificamente, Shakespeare como Baudelaire. Apenas um tocava
num piano sem fim, e o outro num violino.
Destes homens assim, cujo poder material só vai à gaita feita dum
caule de cevada verde, há aqui em Portugal imensos. Raúl Brandão,
que é desses, é para mim dos mais atraentes e dos mais fecundos.
A
obra realizada em tamanho, em Lusíadas,
em Comédia Humana, em
Sinfonias, destrói a
obra por acabar, sonhada, esboçada, nimbada duma preguiça de
promissão. As Berlengas que Brandão no deixou, as maravilhosas e
nunca decifradas Berlengas que todos hoje conhecemos, não são as
dos Pescadores. São o
próprio assombro do artista, deitado nas rochas de Peniche a olhar
os brumosos penedos. Um romance articulado da Candidinha talvez fosse
eu, sei lá!, um grande livro. Mas não seria tão sugestivo como
essa balbuciada Farsa
que nos deixou, cósmica, protoplásmica, com portas para todos os
horizontes da vida, e sem destino nenhum. Sempre que pego num livro
de Raúl Brandão, estremeço. Como não sou capaz de o levar ao fim,
como não é capaz de me possuir inteiro, parece-me sempre que toquei
no grande corpo humano do autor, informe, mansarrão, aparentemente
morto, e onde um raio de luz desencadeava uma tormenta. Já na
estante, cada letra do título é ainda um dos seus olhos azuis de
pescador, meigos e lancinantes, a contemplar-me.
As
suas obras mais falhadas são para mim as melhores. As Memórias,
por exemplo. De O Doido e a morte,
obra perfeita, a gente ri-se e gosta, certamente. Das Ilhas
Desconhecidas, a gente lê e
gosta também. Dos
Pescadores, a gente
relê e gosta mais. Mas das Memórias,
do Húmus, dos Pobres
e do resto a gente não gosta. Fica com aquela massa imensa cá
dentro para ir articulando pela vida fora de seu vagar. Porque uma
coisa é um livro falhado e condenado à morte, e outra um livro
falhado e condenado à vida. Há lá coisa mais palpitante de seiva,
de eternidade, do que certos bosquejos de Raúl Brandão, a arfar
como ondas sem vento num mar de emoção!
O grande sonhador não foi capaz de contar uma história direita.
Não tinha imaginação romanesca, nem sabia. Mas cada esforço, cada
passo para nos dizer a palavra específica sobre uma figura, é um
alanceado desespero de ternura e trágica beleza.
Não é preciso que Raúl Brandão, ou qualquer outro artista assim,
fique no primeiro lugar da história da literatura. Um primeiro lugar
ao lado de Frei Heitor Pinto ou mesmo de Sá de Miranda interessa
pouco. Mas já não é o mesmo ficar ao lado da sua própria
evidência, tentador como um fruto imaturo.
Miguel
Torga, “Diário
III”,
pp.
43-45,
1954,
Coimbra.
13/05/2018
12/05/2018
...
Hoje
falarei do Marrão.
Morreu
o portador desta alcunha há um bom par de anos nas costas de África,
mas ainda não está esquecido. Aliás, os mais simples casos
passados há vinte, trinta ou mais anos, contam-se aqui como do tempo
que corre. Os antigos têm poucas distracções: não entraram para
as fábricas de Gouveia e Moimenta, como os novos, não se dividiram
nem se dispersaram, não mudaram de vida. Curtem o seu reumatismo e
as suas memórias. Memórias vivas, nunca alteradas, mas apesar de
tudo sem aquele fartum de velhas que enfada o ouvinte. Parece-me a
mim… Já me tem calhado perguntar, com o devido respeito: Isso
passou-se?… E obter de resposta: Deixe-me cá ver: ô! Inda eu não
tinha ido prà América; ou já tinha voltado da América; a minha
Teresa inda não era nacida… Em resumo, à roda de uns trinta anos.
Porém os fins do Marrão são mais recentes. Morreu degredado,
comido pelos pretos, constou cá na aldeia. Mas ninguém o chorou,
nem a mulher, uma coxa, a única do povo, de modo fino, cauteloso e
sabido.
O
Marrão foi casado, como se vê, e teve filhos de que hoje só resta
um. É torto, como o pai, mas ainda não tem cadastro oficial. É
bruto, mal falante e sombrio, a prometer sempre que há-de vir a
morrer degredado lá por coisas a que o obriguem… Serão ditos do
vinho, ou o sangue maligno do pai que ainda bula nele. Porém, os
companheiros acomodam-no e ele não vai além das promessas. A vida
do Marrão era digna de ser contada. Mas por quem? Por algum dos seus
parelhas da serra. Pelo Maurício, pastor que bastas vezes o
defrontou, homem firme, incapaz de dar costas a outro. Mas o
Maurício, que tantas referências lhe faz, remata o assunto sempre
mais ou menos deste jeito: Foi um miserável, um desgraçado! Já
pagou e nós inda estamos a dever.
(…)
“
Irene
Lisboa, “Crónicas da Serra”, pp.12-13, Livraria Bertrand,
Lisboa, s/d.
10/05/2018
...
Coimbra,
10 de Maio de 1939 –
Não,
não trouxe da aldeia a paz do arado que trazem todos. Conheço
alguns que investigam, medicam, litigam, professam, com a serenidade
e a paz com que os pais abrem regos de batata na terra. Eu não. Eu
trouxe de lá a angústia, tortura, crítica negativa a tudo. A razão
não a sei. Talvez sina, talvez desilusão crónica que se me colou à
pele ao nascer...
Miguel
Torga, “Diário I”, pág. 96 , 1941, Coimbra.
29/04/2018
Novidade das 50kg...
Sob
o Olhar de Neptuno de Manuel de Freitas
Desenho
da capa de Ângelo Ferreira de Sousa
Edições
50kg, Porto, Abril de 2018.
P.V.P:
€ 6,00
250
Exemplares
ISBN:
978-989-99345-2-8
Todos
os exemplares foram compostos em tipografia de caracteres móveis e
uma zincogravura reproduz a capa com apontamentos em folha de ouro.
28/04/2018
Inscrições Abertas 2...
Após
o estrondoso sucesso do nosso primeiro curso designado por
«Literatura para Vitrinistas» (ver + aqui). Dá-mos início à
abertura das inscrições para este novo curso.
Fomos para isso motivados pelas imensas incongruências, incoerências
e erros históricos que constantemente se encontram nos chamados
filmes de época, ou nas peças teatrais, que também retractando uma
determinada época, são levadas, hoje, à boca de cena. A parca ou
mesmo a falta de pesquisa por parte de quem pretende recriar com
rigor histórico determinado ambiente ou situação passada - leva-nos
constantemente a ver, nos ditos filmes e peças de época, erros de
cronologia que mancham indelevelmente o suposto rigor que deveriam
atender. Constantemente se vê, por exemplo, fulano de tal, numa cena
passada no século XVIII, sentado à sua secretária que até pode
ser de um estilo congruente, mas emoldurado por uma biblioteca cheia
de encadernações que só apareceriam cem ou duzentos anos mais
tarde. Vê-se tipografias e ferros de Arte Nova num filme que
pretende passar-se no século XVII. Pastas feitas com balancés
eléctricos, ou uma encadernação meia amador francesa nas mãos de
um devoto da Idade Média… Pensa-se que basta uma encadernação de
pele gasta, para dar aquele ar antigo, e usado e pouco mais é
necessário para se pintar o retrato há época… Não basta, é
claro!
Mas há outras subtilezas que são ainda mais comuns. Noutro dia
vimos um filme, que por consideração não o vamos nomear, mas que
pretendia com rigor retractar um conflito no século XIX, uma alta
patente militar é interrompido por um subalterno com um requerimento
interno com ordens e instruções estratégicas. Como é que é
apresentado essa missiva? Num sobrescrito quadrilongo e dobrado em
harmónio, ou seja, um formato comercial. Quando se sabe que a forma
oficial dos requerimentos, nessa altura, eram o duma dobragem em
quatro partes iguais com envelopes quadrados destinados para esse
fim. São minudências isto? São minudências ouvir chamar, numa
peça histórica, «Sua Alteza» à rainha quando se sabe que é um
tratamento exclusivo para os seus filhos enquanto principes e
infantes? Sei que são situações que passam ao lado de muitos. Mas
queremos rigor histórico ou não? Poderiamos falar de muitos mais
casos, de expressões de trato usadas incorrectamente, uma coisa
simples como o uso de cores de lacre para selar os invólucros e que
representam diferentes estados de espírito, o negro para uma carta
de luto, o vermelho para uma carta mais intima. Mas não burocrática
ou oficial como se vê muitas vezes representado. Sem falar na
joalharia ou nas coroas que são sempre símbolos representando a sua
determinada casta. A coroa de um duque é tão diferente da dum conde
e por aí fora até à dum rei ou a de um imperador que é bem
diferente da dum rei. São cuidados que se podem aplicar até na
manufactura das coroas de papel de um teatrinho infantil.
Por estas razões. E para orientar os interessados na manutenção
destes rigores que darão uma maior verosimilhança às suas
recriações históricas. Decidimos elaborar este curso que terá
como base a famosíssima obra, que é em si um grande compêndio, da
segunda metade do século XIX – o “O Novo Secretário Universal
Comercial Portuguez”. Os destinatários são os que com o título
do curso são indicados, porém não abrindo ao público em geral
porque o consideramos abstracto fazemos uma excepção, com uma
pequena quota, (não sejam assim com as quotas) para estudantes de
estudos feministas e do género, onde nesta obra poderão encontrar
imenso material e “assumptos” acerca do papel da mulher, ou a
inexistência deste, nas sociedades da altura. Sendo as extrapolações
para a sociedade actual da vossa responsabilidade, ou como se diz nos
direitos de antena: da responsabilidade dos intervenientes.
Estão abertas as Inscrições. Boa sorte!
RAR, 28 de Abril de
2018.
“Das
formulas de tratamentos
Quando
nas regras e observações geraes ácerca do estylo epistolar,
ponderámos, que era necessario attender á qualidade e cathegoria da
pessoa a quem se escreve, dissemol-o, porque o estylo deve ser
adequado aos predicados d’essas pessoas. Agora porèm, que vamos
enumerar succintamente quaes os tratamentos devidos ás differentes
jerarchias, que constituem a sociedade (alguns dos quaes sómente se
acham estabelecidos pelo uso geral que d’elles se faz) cabe-nos
recommendar a maior circumspecção no emprego d’esses tratamentos,
para que de simellhante falta não nasça algum resentimento.
Assim é que quando a carta ou
requerimento fôr feito:
Ao
papa, pôr-se-ha no alto = Santissimo
Padre.
Ao
rei = Senhor.
Á
rainha = Senhora.
Ao
principe, princeza, infante ou infanta1
= Serenissimo
Senhor ou Serenissima Senhora.
Ao
patriarcha = Eminentissimo
e Reverendissimo
Senhor.
Aos
bispos, arcebispos e principaes da Sé = Excellentissimo
Senhor.
Ao
vigario geral = O
mesmo tratamento.
Ao
esmoler mór = O
mesmo tratamento.
Aos
monsenhores = Ill.mo
Reverendissimo Senhor.
Aos
barões, condes, marquezes e duques = Ill.mo
Excellentissimo
Senhor.
Aos
pares do reino = O
mesmo tratamento.
Aos
conselheiros de estado = O
mesmo tratamento.
Ao
presidente do tribunal da relação = O
mesmo tratamento.
Ao
procurador geral da corôa = O
mesmo tratamento.
Ao
procurador regio = O
mesmo tratamento.
Ao
procurador geral da fazenda = O
mesmo tratamento.
Aos
governadores civis dos districtos do reino = Ill.mo
Excellentissimo Senhor.
Ao
presidente da camara dos deputados = O
mesmo tratamento.
Ao
presidente da camara municipal = O
mesmo tratamento.
Ao
presidente da junta do credito publico = O
mesmo tratamento.
Aos
brigadeiros, marechaes de campo, tenentes generaes, marechaes do
exercito = O mesmo
tratamento.
Aos
chefes de divisão, chefes de esquadra, vice-almirantes e almirantes
= O mesmo
tratamento.
A
todos o mais individuos, que occupam uma posição decente na
sociedade, é costume pôr-se no alto da carta Ill.mo
Senhor
e dar-se o tratamento de Senhoria. O vossa
mercê
sôa mal hoje ao ouvido, que se o empregarmos escrevendo mesmo
a pessoas a quem não competisse outro tratamento, esta incuria
beliscaria o melindre de muitos, ou ao menos, a hilaridade de todos.
Ás
senhoras competem os respectivos tratamentos de seus paes, maridos,
etc., e sempre Dom;
no entanto é moda dar-se Excellencia a todas, mui particularmente
nos bailes e saráos. Aquelle, que infringisse hoje este requintado
preceito de urbanidade, passaria por grosseiro e descortez.
Quando
a pessoa a quem escrevemos fôr de consideração e respeito,
deveremos pôr, bem no alto da carta, o tratamento que lhe tocar, e
depois começar a primeira regra a dois terços, pouco mais ou menos,
da altura do papel.
Nas correspondencias familiares não se
exige esta formalidade.
Corpo da Carta
Seria grande incivilidade, especialmente
em uma carta de ceremonia, usar de breves, raspar palavas, ou pôr
entrelinhas.
A polidez tambem exige, que se deixe á
esquerda do papel uma margem larga em branco. Todavia nas cartas
familiares, ou de egual para egual, é dispensavel esta formalidade.
No corpo da carta deve usar-se sem
affectação do titulo ou tratamento devido á pessoa a quem se
escreve.
Assim é que diremos:
Ao papa – Vossa Santidade.
Ao rei e à rainha – Vossa
Magestade.
Ao patriarcha – Vossa Eminencia.
Aos bispos, arcebispos, fidalgos,
titulares, pares do reino, etc. – Vossa Excellencia.
Ás mais pessoas, como atraz dito –
Vossa Senhoria.
Nas cartas de formalidade e ceremonia
devem evitar-se as interrogações; mas se as fizermos será sempre
de um modo respeitoso.
Finais das Cartas
Como são muitas e variadas as maneiras
de rematar uma carta, transcreveremos aqui, para maior facilidade, as
formulas mais usadas, em cujo emprego (escusado seria repetil-o)
devemos sempre ter em vista quaes as relações que temos com a
pessoa a que nos dirigimos:
Sou com o mais profundo
respeito
De V. Excellencia
Attento venerador e criado.
Digne-se V. Excellencia
receber as protestações e respeito de quem tem a honra de ser
De V. Excellencia
Subdito fiel e
respeitoso.
Sou com todo o respeito
e acatamento
De V. Senhoria
Attento venerador.
Aproveito esta ocasião para
repetir mais uma vez que sou
De V. Excellencia
O mais attento
venerador.
Tenho a honra de confessar que sou
De V. Excellencia
Muito venerador e
criado.
Sou com toda a consideração
De V. Senhoria
Respeitoso admirador e
affectuoso criado.
Espero que V. Excellencia não
duvidará nunca da consideração e respeito com que sou
De V. Excellencia
Muito humilde criado.
Digne-se V. Excellencia receber os
respeitosos cumprimentos, de quem tem a honra de assignar-se
De V. Excellencia, etc.
Receba V. Senhoria, com a
sincera expressão do meu reconhecimento, as protestações de
respeito e acatamento com que
De V. Senhoria
Sou com a mais alta
consideração
De V. Excellencia, etc.
Nas correspondências familiares
usaremos das seguintes formulas:
Acredita que sou e serei eternamente
Teu amigo do coração.
Adeus, meu charo, conta sempre com a
sincera amisade e verdadeira estima do
Teu fiel amigo.
Recebe com as expressões de
amizade, que te envio, mil saudades d’este
Teu amigo sincero
podes ficar certo, que a minha
amisade nunca terá quebra, e que sou e serei sempre
Teu amigo, etc.
Para
se empregar com acerto
qualquer d’estas formulas, diremos que a palavra reconhecimento
é a mais propria quando se escreve a um bemfeitor; que aos
superiores devemos respeito; reverencia
aos paes e aos mestres; e consideração áquelles,
que gozam da estima publica pelas virtudes e ponderosos serviços.
Os paes, escrevendo aos filhos, acabam
ordinariamente dizendo:
Teu
pae affectuoso e amigo.
Teu
pae e bem sincero amigo.
Teu pae e unico amigo.
Teu pae muito extremoso.
Ou tua mãe, etc.
Os
filhos, porém, deverão usar de fórmulas respeitosas, como por
exemplo:
D’este
seu filho
Muito obediente e respeitoso.
Sou com a mais profunda veneração,
meu querido pae (ou mãe)
Seu filho (ou filha) muito
affectuoso (ou affectuosa)
Nas cartas que forem dirigidas a pessoas
de respeito e consideração, nunca se accrescentarão post-scriptos.
Como nas correspondencias das
confrarias e associações se costuma usar das mesmas formulas, que
nas publicas ou officiaes, diremos qual é a praxe seguida n’estas,
afim de se poderem empregar quando fôr necessario.
No alto do officio põe-se o tratamento
devido á pessoa; por exemplo: Ill.mo e Ex.mo
Sr., e no fim escreve-se em regra separada:
Deus guarde a V… (Segue-se a data);
logo em seguimento, e n’outra linha, começando da extrema esquerda
do papel, pôr-se-ha:
Ill.mo Ex.mo Sr.
(o nome ou titulo): e bem no fim do papel a assignatura.
N. B. É signal de respeito pôr n’uma
só regra o nome todo da pessoa a quem se officia; bem como deixar um
grande espaço entre este e a assignatura.”
M.A.S.
(org), “Novo Secretario Universal Comercial Portuguez – ou
methodo de escrever toda a especie de cartas”, pp. 16-25, Livraria
J. J. Bordalo, Lisboa, 1874.
1Não
é erro escrever infante ou infanta, porque temos boas auctoridades
tanto para uma como para outra palavra.
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