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03/09/2011

Por que não existe um meio buraco...



SPLEEN DE BRENDA GISELE

No polibã do T0, Brenda,
Brenda Gisele, no conforto da toalha,
Apara as unhas dos pés.
Todo ele é Um, de lés-a-lés,
Dobrada aleta sobre si,
Manicure, com pé de atleta.

Lá fora, não sabe que horas são!

Naquele prazer escarlate depõe
Corta-unhas, cotonete, e hidratante,
E tal não sendo bastante
Não abre a porta a quem lá fora bate
«senhor, senhor, por favor».

Também ele se reserva, como Xangai,
E por vezes incontinente,
Esses momentos quando grita, eloquente,
«já vai»; e o mundo espera-o, «já vão!».

Também ele tem as suas horas louras

Por amar como um sol regressa ao céu
Ou houve «favas com entrecosto»,

Porque toda a poesia é verdadeira se, e somente se,
Todo o bestiário for doméstico,
Como aquele luto sob a unhaca que ora retira,
Como os pêlos do ralo do bidé.

Nunes da Rocha, “Cova Funda”, pp, 11-12, &etc, 2011.