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24/03/2018

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"Cacei-me com a boca na botija a pensar numa tristeza minha como se fosse um poeta. Mais um perigo a evitar, este de considerar a tristeza um tesouro particular de que se fala com respeito e ternura, Se não tomo cuidado perco-me completamente. Fico para aí  escrever versos sobre os meus furunculozinhos mentais e a impingi-los aos outros como sendo obras duma importância fundamental."

Luis de Sttau Monteiro, “Um Homem Não Chora”, pp. 53-4, Ática, Lisboa, 1963.

21/03/2018

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“(…)
Eu feito homem da gravata às riscas – Pois invejo-lhe a sua posição. Também gostava de ser independente.
O Sr. Pomposo – Pelo que lhe ouvi dizer pareceu-me que já o era.
Eu feito homem da gravata às riscas – Sim… dentro da medida do impossível…
O Sr. Pomposo – Dentro da medida do possível, quer V. Ex.ª dizer…
Eu feito homem da gravata às riscas – If you say so.
O Sr. Pomposo – Peço-lhe o especial favor de se não usar palavras estrangeiras. Considero tal hábito antipatriótico. Uma pessoa esclarecida como V. Ex.ª deve auxiliar-me nesta minha campanha em favor do aportuguesamento da língua.
(…)
Felizmente o elevador chegou ao fim da viagem. Saímos todos para a rua. Um «chauffeur» bem fardado abre a porta do carro do sr. Pomposo e este pergunta se nos pode ser útil ou se desejamos que nos leve de carro a qualquer sítio.
Por amor de Deus, meu amigo. Moramos aqui mesmo. De qualquer forma nunca entro num automóvel.
Porquê?
Porque o automóvel não é uma invenção portuguesa. Trata-se dum autêntico estrangeirismo. Pessoalmente sou pelos meios de transporte tradicionais portugueses: a mula, o coche e a cadeirinha. V. Ex.ª, que é uma pessoa esclarecida, deveria auxiliar-me na minha campanha pelo aportuguesamento dos meios de transporte, pelo regresso às velhas tradições que tão bem serviram os nossos avós. Não acha?

Luis de Sttau Monteiro, “Um Homem Não Chora”, pp. 32-35, Ática, Lisboa, 1963.