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09/02/2019

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“Bissau, 11 de Junho de 1967. Mandaram-me defender a lama ou morrer. Enganei-me. Enganaram-me. É tudo uma extensão para recobrir problemas de herança. E ela lá está, por entre os ramos, a viúva. Com dentes muito brancos, sob o luar tropical. Para apregoar a vitória de Jeová. Estou bêbedo, vou morrer e bato com as mãos na testa…
Como é que eu não tinha percebido a engrenagem?… Eu, que aprendi a ler no almanaque a data dos eclipses, que aprendi outras coisas da ciência, que me apercebo deste imenso bando de esqueletos sem violino, tuberculosos… como é que não percebi logo que os textos sagrados me preparavam a morte? Que todo o cadáver retalhado me incitava ao heroísmo? Que toda a clausura me avisava da espera resignada? que toda a doença me aclimatava para o dever?
E ela ri, no seio de Jeová. É o nosso último encontro. Tenho de escolher: a loucura ou o fuzilamento.
Enlouqueço.”

José Martins Garcia, “Alecrim, Alecrim aos Molhos...”, pág. 128, Fernando Ribeiro de Mello / Edições Afrodite, Lisboa, 1974. Capa: Henrique Manuel.

20/04/2015

Revolucionários e Querubins...



_________________ e viva o povo!

Ramiro Ramires de Ramada e Ramos, cultivador das Musas e de alguma Indústria, casado católicamente com Dona Marta Martim de Coutim e Coutinho, cultivadora das Musas e de propriedades rurais, sentiu-se um dia profundamente triste na sequência de mais um conflito israelo-árabe, o de 1973.
– O homem moderno precisa de velocidade! – confidenciou a um amigo.
De facto, por meras questões ideológicas, o combustível escasseava. Os três automóveis do casal sofriam horrores para atestarem os depósitos. E em fins-de-semana nem uma bomba funcionava, visto o Governo, como todos os imbecis Governos desta terra, clamar incessantemente por austeridade.

JoséMartins Garcia, “Revolucionários e Querubins”, Fernando Ribeiro de Mello / Edições Afrodite, p. 13, Lisboa, 1977.