02/12/2019

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Para uma pequena filosofia do Natal
Ao separar a correspondência, o carteiro encontrou várias cartas dirigidas ao Pai Natal. Como não tinham endereço, ficaram por distribuir. Desejos não endereçados não chegam ao céu!
Resolveu fazer Natal todo o ano. Quando o trataram de maluco, perguntou-respondeu candidamente: – Então o pinheiro não é árvore sempre verde?
Encontrou no sapatinho uma guilhotina de brinquedo.
À porta da loja de brinquedos, o Pai Natal já não podia com o frio. Um senhor teve pena dele e pagou-lhe um copo num bar vizinho.
Proposta (rejeitada) de um vereador amigo da natureza: fazer árvores de Natal nos pinhais (com pinheiros não cortados, evidentemente).
Todos os lugares deveriam ser santos no Natal.
Pelo Natal, um pequeno industrial arruinado decidiu relançar o seu talco invendável sob uma nova marca: NATALCO. «Mas é a pior altura do ano para se vender talco!», disse-lhe um amigo. «Não. É agora que os armazenistas fazem os seus estoques de Verão»», respondeu-lhe o industrial. E cada um parecia muito seguro do que afirmara. Eu pensava nos refegos dos bebés…
O mais triste do após-Natal: pinheirinhos, às portas das casas, como adereços imprestáveis.
Estão à espera de uma graça sobre o Natal e a gasolina, não estão? Então esperem…
– Que tens tu?
– Nada. É Natal.”


Alexandre O’Neill. In “Capital”, 20 de Dezembro de 1973.

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