15/06/2019

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Coimbra, 15 de Junho de 1945 O primeiro pedreiro que quebrou o arco, esse é que eu queria conhecer…
A conversa girava à volta do problema da criação, no seu aspecto individual e colectivo.
– Então mas a catedral não é precisamente uma prova irrefutável da arte por equipas? E Shakespeare e Camões e Goethe não se fartaram de construir sobre materiais carreados por outros?
– Embora. Entro na Sé Velha ou na Batalha, e digo: Aqui, o génio de tudo isto está na padieira da porta. Quem arredondou ou ogivou, esse é que tem a glória. Quanto ao Camões e aos outros, por cada cena que já estava imaginada antes deles, menos um valor. E tanto se me dá que me chamem individualista, como não. Enquanto não aparecer uma escola de ginástica que fabrique um Nijinski, em arte sou pelo dom e pela predestinação.

Miguel Torga, “Diário III”, pág. 101, 1954, Coimbra.

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