19/01/2019

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É favor não sujar o offset!
Grande progresso se anunciou para o nosso «Diário de Lisboa» pela pena do seu Director-Geral Lopes do Souto! Tão grande que o cronista, amodorrado desde há meses, sentiu uma irrecusável necessidade de romper o silêncio, fita de máquina e papel para festejar, na sempre boa companhia que é a deste Jornal, a novidade grande: o offset!
Sim! Vocês já viram bem o que vai ser o offset? Do ponto de vista de quem lê ou, pelo menos, manuseia o jornal, o offset representa, pela primeira vez em Portugal, a possibilidade de não sujar as mãos com notícias frescas. Da fresca data à fresca tinta como as técnicas podem mudar!
Homens de mãos e punhos brancos, o offset não denunciará em vós o hábito de estar a par do que ocorre no mundo e seus quintais. Doravante (melhor: 6 de Outubro chegado) podeis entregar-vos, sem traiçoeira mácula, a esse vício que até agora haveis mantido quase secreto; o da informação. Vietname não sujará a mão! Golos do Eusébio não sujarão a mão! Palavras cruzadas não sujarão a mão (o offset não se responsabiliza pelo eventual derrame do conteúdo da esferográfica…)! Discursâncias (que sacrifício para um jornal que é rápido…) não sujarão a mão!
O OFFSET CONSERVA MAIS BRANCO!
Homens de mãos (honestamente) sujas, não mais podereis mostrar o sujo das vossas mãos como um dramático sinal da luta pela informação! Acabou-se o fadinho, queridos e esforçados autodidactas…
Que bom, que lindo um jornal limpo!
Assim, para rematar esta croniqueta, que ainda suja, propomos que o Diário de Lisboa offseteditado passe a trazer, em cada número, a evidência da sua preocupação de limpeza:
É FAVOR NÃO SUJAR O OFFSET!”


Alexandre O’Neill. In “Diário de Lisboa”, 9 de Setembro de 1971.

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